

Quando pensamos em edifícios desmontáveis, provavelmente nos venham à cabeça exemplos de arquitetura efémera, como pavilhões para exposições, stands, instalações artísticas, etc. Nesses casos, temos interiorizado de que devemos projetar edifícios deste tipo porque estão pensados para um uso limitado no tempo, mas por que não aplicamos estes princípios a edifícios com um ciclo de vida mais longo?
O Design para Desmontagem (DfD, Design for Disassembly) é um dos seis princípios base do movimento Built Positive e da economia circular. Consiste em projetar edifícios e produtos com a intenção de recuperar os materiais no final do seu ciclo de vida, de maneira fácil e rentável, para manter o seu valor e poder reutilizá-los ou reciclá-los posteriormente. Embora possa parecer um pouco novo, na realidade não o é assim tanto. Praticamente todos nós passámos inúmeras horas a construir e a desconstruir todos os tipos de coisas com peças de Lego e Meccano. Algumas pessoas, como é o meu caso, derivam o mesmo em vocação construtiva, quase sem se aperceberem. O que realmente é mais novo é aplicar este sistema na própria edificação, não é?
Já há muitos anos que os nómadas de Mongólia vivem em yurts feitos com estruturas de madeira e forradas com pano e lã de iaque, que podem ser desmontados num par de horas e transportados a mais de 50 quilómetros de distância num camião, para serem novamente montados num período de tempo semelhante, como se fosse um móvel do Ikea. Embora os yurts de hoje tenham evoluído muito, os primeiros exemplos remontam à Idade Média, o que demonstra que já naquela época se aplicavam os princípios do DfD.
Os princípios de design para desmontagem baseiam-se na construção de edifícios com ligações e junções preferencialmente estandardizadas, que sejam mecânicas, reversíveis, de fácil acesso e que não usem resinas ou adesivos. Além disso, deve-se usar a menor quantidade possível de materiais e tratar, sempre que possível, de que tenham uma base biológica, pois será mais fácil de reciclar e de recuperar. Desta forma, todos os materiais podem ser separados no final da vida útil do edifício e ser reutilizados ou reciclados. Para isso, os conceitos de Shearing Layers e de Material Passport são muito úteis, que permitem que os materiais sejam acessíveis, identificáveis e quantificáveis, de maneira a facilitar o seu processamento no final da vida útil do edifício. Também é importante evitar elementos incrustados noutros e usar componentes fáceis de limpar e manter, o que prolonga a sua vida útil. Por fim, é interessante elaborar plantas de construção do edifício e um guia de desmontagem do mesmo para, se se der o caso, proceder à desmontagem sem dificuldade alguma.
Um bom exemplo de design para desmontagem é a Villa Zebra, de XX architecten, também chamada Children’s Hall of Art de Roterdão. Em aproximadamente dez anos, este edifício já reutilizou várias vezes os seus componentes. Inicialmente era um espaço cultural para as crianças e transformou-se em Villa Nutcraker, uma escola provisória em Hoogvliet, e posteriormente em Villa Camera, três construções que compreendem uma escola de artistas, uma residência e um escritório. Uma espécie de Meccano gigante que mostra que, se se tem em consideração desde o início, podemos reencarnar os nossos edifícios em várias formas, usos e lugares sem demasiado esforço, revalorizando-os a cada reencarnação.
Outros exemplos como a F87 Efficiency House Plus de Berlim, de Werner Sobek, também provam que o desafio de ser desmontável e sustentável pode ser alcançado, incluso gerando energia e conseguindo um balanço energético positivo.
Estes edifícios demostram que já podemos aplicar o design para desmontagem em todos os tipos de projetos, não só nos efémeros. Pode parecer complicado e inalcançável ainda, mas é possível, e é o nosso futuro.