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Julia Ayuso

SHŪKATSU (就活), ou como trabalhar como arquiteto no Japão

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Fotograma de “Recruit Rhapsody” (vídeo disponível no Youtube) de Maho Yoshida. Tokyo University of the Arts, 2012

Shūkatsu (abreviatura da expressão shūshoku katsudō, literalmente, “atividades para procurar emprego”) é a prática mais usual que leva a cabo a maioria das empresas japonesas para contratar um elevado número de recém-licenciados antes de estes terminarem os seus estudos. Por outras palavras, o processo de recrutamento no Japão começa no terceiro ano do curso, participando em seminários de contratação dentro e fora da universidade. No quarto ano dedicam-se a enviar as candidaturas para as empresas em que desejam trabalhar, com o objetivo de completar todo o processo de seleção e ser admitido nalguma. Os que o conseguem licenciam-se na universidade em março, com o objetivo de começar a trabalhar a um de abril do ano seguinte, coincidindo com o início do ano fiscal. Desta forma, qualquer pessoa que termina o curso universitário tem assegurado um emprego e as melhores empresas distribuem-se pelas universidades de prestígio.

Este ano de 2016 estou a ter a oportunidade de experimentar uma mudança cultural. Estou a conhecer o Japão através do seu mundo profissional: trabalho na empresa de arquitetura Nikken Sekkei em Tóquio, que é a empresa privada mais importante de arquitetura do Japão e a terceira maior agência de arquitetura do mundo em número de arquitetos. A experiência, para lá da importância de trabalhar numa empresa internacional e obter aprendizagem técnica, permitiu-me uma mudança de cenário social. É uma viagem cheia de nuances que implica explorar e participar num escritório, numa comunidade, numa cidade e numa cultura completamente diferente daquelas a que estou habituada.

O Japão, como turista, é um paraíso, mas como trabalhador talvez não tanto. De acordo com a minha experiência, destacaria dois aspetos que, apesar de óbvios, me parece fundamental ter em conta para quem estiver interessado em emigrar para o Japão:

  1. O Japão fala japonês: o japonês pode ser difícil. Não só é necessário aprender a falá-lo como também aprender a escrevê-lo, quase como se fosses uma criança. No entanto, falar é relativamente simples para os hispanofalantes* porque a maioria dos sons a pronunciar são muito parecidos ou idênticos ao espanhol.
  2. No Japão trabalha-se à japonesa: em Espanha trabalha-se e no Japão também, mas com culturas de trabalho completamente diferentes. A cultura de trabalho japonesa é particular. É organizada e, tal como parece ser o resto da cultura, está impregnada de um sentimento de comunidade. Sair do escritório às 21:00 é considerado normal. Muitos voltam às 22:00 ou 23:00… alguns passam a noite no escritório. Espera-se que fiques o tempo que ficam todos os outros, ainda que não seja necessário…só porque fazes parte da equipa. Tens de desfrutar o ambiente, ter latente essa curiosidade de aprendizagem para suportar o ritmo. O escritório transforma-se no lugar de interação total e o trabalho a esfera em que se desenvolve a vida diária. O tempo no trabalho é mais importante do que o tempo com a família e, ainda que muitos não o pensem, na prática, é assim que acontece.

Se, apesar das dificuldades te habituares ao ritmo e aproveitares as coisas boas o Japão vai conquistar-te. Como turista, enfeitiça sempre. Se te integrares, a língua japonesa deixará de ser um problema e terás alguns amigos japoneses. Darás por ti a agradecer com um pequeno gesto com a cabeça, sentir-te-ás mais confortável de cócoras do que de pé e descobrirás uma coisa com que não contavas: queres ficar.


*N. de T. O artigo original foi escrito em espanhol. Artigo traduzido por Inês Veiga.
Por:
(Elche, 1983) Como resultado de mi trabajo de investigación, hago labores de diseño y consultoría de espacios de trabajo centrados en las personas, que contribuyen a la mejora de su salud, bienestar y productividad. Soy Doctora Arquitecta y Project Manager especialista en cuantificar el beneficio económico que supone para las empresas la implementación de estrategias de diseño centrado en las personas, y actualmente dirijo People Lab en CBRE. No siempre quise ser arquitecta. Cuando era una niña pensaba que tal vez sería exploradora, o científica, o inventora. He viajado por todo el mundo para ver, tocar y sentir la arquitectura que me emociona. He vivido varios años en Japón, y lo que más me gusta de este país es su amor por lo bello y lo sutil (y el matcha).

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