A pesar da ameaça do Brexit, as grandes empresas tecnológicas decidiram ampliar as suas sedes em Londres. A Google já começou a construir o seu novo campus em King’s Cross, tudo indica que a Facebook será brevemente sua vizinha, e a Apple adquiriu 40% do espaço de escritórios que oferece a reabilitação da antiga Central Elétrica de Battersea. No entanto, enquanto que na costa oeste dos Estados Unidos situaram os seus campus na periferia, no Reino Unido decidiram instalar-se no centro da capital britânica.
O modelo do campus corporativo, motivado pela descentralização de recursos produzida durante a Guerra Fria, inspirou os gigantes de Silicon Valley. Esperava-se que o isolamento de um meio natural não só melhorasse as condições de trabalho e a criatividade dos cientistas e engenheiros, mas também contribuísse para convencer um público cético sobre os benefícios sociais e políticos do poder corporativo1. Por isso, o que foi realmente significativo foi que “à diferencia dos subúrbios residenciais, este tipo de desenvolvimento metropolitano não teve origem como ideal promovido por designers2.” O que Louise A. Mozingo definiu como “capitalismo pastoril” (pastoral capitalism) tem origem na iniciativa das próprias corporações, que instrumentalizaram a imagem idílica do campus (afastado do caótico centro urbano) como valor cultural.
Assim como o campus corporativo contribuiu para formalizar a área metropolitana das cidades americanas, as construções dos gigantes tecnológicos ajudarão a reconfigurar os “distritos de inovação” das grandes cidades. De facto, face ao tradicional arranha-céus e aos centros administrativos, os arquitetos estrela de Google— Bjarke Ingels e Thomas Heatherwick — apresentaram a sua nova sede como uma inovadora tipologia arquitetónica: o “landscraper.” Trata-se de uma megaestrutura que, com mais de 300 metros de comprimento, ocupa cinco solares do plano de desenvolvimento de King’s Cross. A sua horizontalidade tenta responder literalmente ao contexto de “economia do conhecimento” na qual trabalhadores altamente qualificados colaboram num espaço comum aparentemente carente de hierarquias e que aspira a facilitar tanto a produtividade dos seus empregados como o seu bem-estar. A isto, não só se aporta a crescente domesticação dos espaços de trabalho, como também se incorporam espaços para o lazer dentro dos limites corporativos. De facto, o “landscraper” da Google, além de um restaurante, ginásio e piscina, tem também uma cobertura ajardinada pensada para atividades como o “relaxamento”, o “exercício físico”, a “reunião com amigos” ou, incluso, “fugir do trabalho.”
No entanto, além dos problemas que podem resultar da falta de separação entre espaços de trabalho e de lazer3, a incorporação no centro urbano dos gigantes da tecnologia continua a manter a condição de “enclave”4 que caracterizou o campus corporativo. Espaços fechados em si mesmos que promovem uma excessiva autonomia, privacidade e segregação. Uma transformação urbana que se produz não só a nível espacial, mas também político e que reflete a crescente privatização da cidade. Por isso, o projeto da cidade não se pode completar unicamente com uma bela imagem corporativa, mas que reside, também, nas possibilidades críticas da própria forma arquitetónica.
Texto traduzido por Inês Veiga