

Geralmente, aceita-se que as políticas urbanas “inteligentes” são as iniciativas dos governos locais que utilizam as tecnologias da informação e a comunicação para aumentar a qualidade devida dos seus habitantes, ou seja, que ajudam um desenvolvimento sustentável.
A utilização de dados e de programas que incorporam novas tecnologias no projeto não substitui o processo de design nem da sua conceptualização: são um meio e não um fim. Usar um editor de texto não interessa aos escritores, utilizar o BIM ou o GIS não nos fazem melhores arquitetos, ter acesso ao Big Data não nos faz propor soluções mais interessantes ou pôr sensores não resolve o projeto em si. Mas ajuda a comprovar, a medir, a ser mais precisos nas análises ou nas comprovações, a ser mais eficazes nos processos e a relacionar de maneira más ágil diferentes temas, campos e escalas da projeção.
É frequente que, em conversas entre arquitetos, surja o debate – sempre muito polémico – sobre o Smart. De certeza que já ouviram: “Isto do smart não tem nada a ver comigo… sou arquiteto, não sou engenheiro nem informático”, “Isto não é ficção-científica… é Smart fumo”, “Essa coisa do Big Data é só uma maneira de controlar”, “Não sei encontrar dados… e acho que não confiaria neles”; “Eu sempre fui interdisciplinar”; “A participação cidadã é uma intromissão, a informação está manipulada, é uma maneira falsa de democratizar o projeto”; ou então “As cidades sempre foram inteligentes”. Mas a questão não deveria ser: Classificamos as cidades em função dos rankings Smart ou somos nós que autodefinimos como arquitetos Smart? Não é só isso, e vamos ver porquê.
Para começar: existe uma definição exata do que é Smart? Achamos que não, porque é mais uma questão de atitude: “Ser Smart significa: colaborar em vez de competir, fazer mais sistema e dominar menos, pôr continuamente em relação” (R. Masiero). É uma maneira de lidar com o projeto que tem a ver com a capacidade de entender o ambiente, de ser estratégico, sinérgico, de fazer mais com menos e de aproveitar melhor os recursos disponíveis, de ser “Senseable”, no duplo sentido da palavra inglesa: ser capazes de sentir e de ser sensatos (C. Ratti). Nos últimos anos, o termo Smart City produziu convergências e divergências entre políticos, líderes empresariais, técnicos, académicos e na cidadania em geral [1]. Todos os arquitetos deveriam de estar dispostos a explorar os campos e a utilidade de “ser Smart” ou de “ser Senseable”, sem se autorrotularem, ou a decidirem se devem ou não ser um promotor do consumo de tecnologia.
Formulemos outra pergunta: devemos continuar a falar do Big Data, ou na verdade trata-se de nos referirmos, em cada caso, a algo mais concreto como Data Land, Data City, Data Architecture, Data Design, etc., em função do tema, do projeto ou das escalas às quais nos enfrentamos, se se trata de paisagem, cidade, arquitetura ou design? Ter acesso a dados, selecioná-los, visualizá-los e usá-los no projeto é apenas mais um insumo e uma possibilidade de abordar soluções e/ou de promover processos. “Só medes aquilo que te importa”, diz Jan Gehl no segundo capítulo do documentário La Escala Humana. Ter determinada informação sobre a cidade, a arquitetura, o ambiente e os cidadãos dá-nos mais certezas à hora de projetar, ajuda-nos a entender que não devemos ser épicos, mas sim de ter a coragem para tomar decisões: “Vocês não são o Super-Homem. Ao definir o vosso papel em termos heroicos, estão a causar problemas”, disse Denise Scott Brown, lembrando o que um professor disse sobre alguns arquitetos.
Há paradigmas, ambiguidades, paradoxos, mitos e riscos no Smart, mas também há potenciais: ter acesso aos dados que supõem um controlo pode ser, na verdade, um insumo para o projeto; a manipulação da participação cidadã para encobrir ou divagar sobre decisões pode ser evitada através da promoção de projetos técnico-participados; o corporativismo das empresas tecnológicas contrasta-se através de políticas públicas eficazes e o excesso de tecnocracia deve ser enfrentado, assumindo que a tecnologia é sempre um meio e nunca um fim [2]. “A arquitetura é técnica, mas também é política” (R. Rogers) e a cidade e a vida urbana mudam, assim como muda “a maneira como a arquitetura se produz e vive” (R. Masiero). É preciso agir com coragem, sensatez e responsabilidade, entender o nosso meio e o tempo no que vivemos, atualizar abordagens, métodos e ferramentas, com uma predisposição para arquiteturas e cidades onde o coletivo, o comum e o relacional (o Smart) adquirem o peso correspondente ao projeto.
Ser ou não ser um arquiteto Smart não é a questão, efetivamente! Mas… temos opção de o ser ou não?
Geralmente, aceita-se que as políticas urbanas “inteligentes” são as iniciativas dos governos locais que utilizam as tecnologias da informação e a comunicação para aumentar a qualidade devida dos seus habitantes, ou seja, que ajudam um desenvolvimento sustentável.
A utilização de dados e de programas que incorporam novas tecnologias no projeto não substitui o processo de design nem da sua conceptualização: são um meio e não um fim. Usar um editor de texto não interessa aos escritores, utilizar o BIM ou o GIS não nos fazem melhores arquitetos, ter acesso ao Big Data não nos faz propor soluções mais interessantes ou pôr sensores não resolve o projeto em si. Mas ajuda a comprovar, a medir, a ser mais precisos nas análises ou nas comprovações, a ser mais eficazes nos processos e a relacionar de maneira más ágil diferentes temas, campos e escalas da projeção.