
Adaptação do cartaz cinematográfico do filme “TESIS” de Alejandro Amenábar (sem fins lucrativos ou de ofensa).
Há pouco mais de uma década que as defesas das teses de doutoramento em Arquitetura se converteram num feito habitual, embora continuem a ser algo absolutamente minoritário. Antigamente só quem tinha a certeza de se querer vincular à docência universitária acometia tal desafio. Era, e continua a ser, o imprescindível “salvo-conduto” para realizar uma carreira em qualquer Universidade de Arquitetura.
Contudo, essa máxima qualificação académica não tem nenhum crédito ou reconhecimento na atividade profissional face a outros colegas licenciados. Hoje em dia é mais “rentável” ter um certificado de conhecimento de inglês ou de aptidão pedagógica, pois são méritos reconhecidos numa candidatura a professor ou para arquiteto municipal, por exemplo.
Então somos idiotas…?
Pois seguramente que sim: ninguém sensato daria um lustro (como minimo) realizando um trabalho tão ingente de forma individual, sem nenhum tipo de remuneração nem espectativas fundadas, e ainda por cima, pagando por conta própria todos os gastos derivados. E tudo isso à custa de adiar a incipiente carreira e até mesmo a vida familiar.
Então porque é que fazemos teses?
Reconheçamos que, talvez para outras não, mas nas universidades de Arquitetura, a formação recebida é (era) muito boa e foi-nos exigida muitíssima dedicação em comparação com (quase) qualquer outro tipo de licenciatura. E sobre as noites sem dormir nos “dias de entrega” eram comuns antes de implantar-se os descafeinados planos de estudos segundo as diretrizes de Bolonha.
Estamos vacinados de medo e respondemos quase sempre com um condutismo, como ratos de Skinner, se me permitem a expressão. Somos amantes apaixonados pela Arquitetura, o que nos faz continuar a aderir a um coletivo do mais “improdutivo” que há. Porque a máxima aspiração que um doutor pode ter com esse título é a de ser “Professor Associado” nalgum departamento e receber menos que um salário mínimo, ao qual ainda se subtraí os gastos dos descontos da Segurança Social. Claro que ninguém acredita nisto quando o contas, mas é a cruel realidade.
E se isto já soa mal, o pior ainda está por chegar: é ver como a Universidade despreza os fenomenais trabalhos de investigação apresentados. Salvo honrosas exceções, as teses mais recentes têm uma qualidade muito superior às defendidas pelos professores que agora presidem os júris de tese. E, no entanto, não se lhes tira proveito… Nenhum. Só uma ínfima percentagem é que chega a ser publicada, e as restantes dormem «o sono dos justos» nalguma biblioteca.1
Porque essa é outra. É inexplicável que hoje em dia se continue a negar a tantos autores o livre aceso aos repositórios online das universidades e do Estado2. Como muito divulga-se o obrigatório abstracte e já está. Tem alguma lógica esconder os resultados de uma investigação doutoral?3
Para concluir acrescento duas coisas mais: uma, que já é hora de exigir um completo Open Access a estes excelentes trabalhos para um maior reconhecimento social e profissional dos Doutores Arquitetos; e duas, que se tem que divulgar os resultados à Sociedade4. Desta forma poder-se-á ver, por exemplo, a qualidade da nossa #ArquitecturaModernaESP 5 sobre a qual tantas e magnificas teses foram feitas por jovens investigadores dos últimos tempos. Divulgar é conhecer, e conhecer é apreciar e gozar a cultura. E na nossa sociedade atual faz muita falta ter mais Cultura, com letra grande.