1

Revista Nature, Vol. 514, outubro de 2014.

2

A ideia de fã, neste contexto, refere-se a entusiasta seduzido, seguidor incondicional e conhecedor infatigável da matéria. No entanto, deve ficar claro que a arquitetura é um serviço e, portanto, requer uma remuneração, perfeitamente compatíveis com o diletantismo e a excelência com a sua atribuição ao campo laboral e crematístico. Fica constatado, amigo Sou.

3

Neste sentido a viajem, habitualmente excluída dos programas de estudo, dos créditos obrigatórios e das disciplinas principais, apresenta-se como uma das armas mais poderosas na aprendizagem da arquitetura a través da sua experiência.

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El professor terá de moderar, recomendar, selecionar e orientar o aluno neste vasto universo de conteúdos de qualidade e índole assimétrica. A tecnologia apresenta-se sempre como um meio e não um fim em si.

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Num ambiente de máxima incerteza em relação ao futuro, as capacidades relacionadas com a toma de decisões de forma criativa e vertiginosa impõem-se al mero conhecimento de dados procedentes da antiga cultura do manual. Neste sentido recomendo o interessante debate “Arquitectos, ¿para qué?” impulsado pelo Club de Debates Urbanos de Madrid, com a intervenção de Federico Soriano, (minuto 32-42) onde se explica como uma escola deve propor “condições de meio e não condições de conhecimento”, dando como exemplo os deferentes protocolos de emergência dos astronautas russos (modelo de comportamentos) e dos americanos (modelo de conhecimentos).

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Com realidade referimo-nos a um âmbito global e planetário; o destino comum faz referência a toda a Humanidade, com as suas diversas manifestações e singularidades.

O ensino da arquitetura: conexões improváeis

Dau Rodó, Joan Brossa, 1969

Dau Rodó, Joan Brossa, 1969. Poema-objeto, coleção MACBA.

Segundo a revista Nature, as universidades do ano 2030 em pouco se parecerão às atuais. As que forem incapazes de assumir algumas mudanças evolutivas simplesmente desaparecerão1. Não se pretende fazer uma radiografia sobre o estado atual do ensino, questão tão díspar e incerta como o zodíaco. Nem sequer se pretende especular sobre o futuro. O único que interessa é observar algumas conexões férteis para o processo de aprendizagem na arquitetura.

Conectar com o universal.

Sou Fujimoto dizia que o primeiro objetivo de qualquer escola deveria ser a criação de fãs de arquitetura2. Seria muito meritório perseguir este objetivo em todas e cada uma das classes, disciplinas ou matérias. A experiência arquitetónica não distingue departamentos nem competências, e é por isso que a transversalidade se entolha como uma atitude irrenunciável: o autêntico ensino de uma matéria integra todas as demais como conteúdos colaterais. Em arquitetura não existem temas menores, e isto já o sabiam os velhos mestres, os verdadeiros diletantes da geometria, da técnica, do cálculo, da história ou do desenho, entendidos furtivos da arquitetura como tema universal.

Conectar com o informal

A possibilidade de encontrar lugares não programados favorece a socialização do debate, o intercâmbio, a atividade espontânea, a aprendizagem colaborativa, a experiência dentro do grupo reduzido e, ao mesmo tempo, o sentimento de pertencer a uma comunidade: a arquitetura das relações3. O outro espaço, o virtual, já estabelece um novo e poderoso canal informal para a educação expandida em arquitetura. Devemos aproveitar as sintonias e as possibilidades da rede pela sua acessibilidade, pela sua extensa capacidade de gerar e compartilhar conteúdos, criar comunidades e, acima de tudo, pela sua absoluta coerência e compatibilidade com qualquer projeto académico4.

Conectar com o aluno.

O aluno atual apresenta duas características próprias do seu tempo:  uma verdadeira vocação e destreza como tudo o que é digital. Malgastar o seu talento em copias de textos em ditados não sentido nenhum: os temários e as bibliografias estão ao seu dispor. O encontro presencial deve ser revalorizado como uma oportunidade para a exploração e trabalho em conjunto para a resolução de problemas ou para a manifestação de conflitos. O aluno conectado pode aprender e conhecer; o aluno presente na aula deve encontrar a motivação para explorar e pensar5. São muitas as técnicas à nossa disposição para fomentar a criatividade a partir de condições do meio: projetos participativos, maquetes coletivas, flipped classes ou as conhecidas manobras TGT (De Vries e Edwars, 1973) Os resultados são positivos.

Conectar com a diversidade.

Qualquer metodologia no ensino da arquitetura deve estimular os diversos interesses de um alunato cada vez é mais diversificado e precoce na abordagem ao mundo profissional: tecnologia, moda, investigação, cooperação, docência, marketing, comunicação, engenharia, design, programação, gestão ou mediação, ampliam-se e ramificam-se os limites da arquitetura num processo expansivo sem precedentes. O atual Sistema de Graus (ciclo genérico) e o mestrado (especialização) deveria facilitar. Este sistema pactuado em Bolonha que, à margem da inevitável polémica, habilita múltiplos perfis híbridos e transversais, num cenário profissional complexo, global, diversificado e competitivo.

Conectar com a sociedade.

Deveria desenvolver-se, de alguma maneira, um ranking de escolas de Arquitetura em função da sua participação ativa e das melhorias de vida. Há pouco tempo Víctor López Cotelo falou-nos, em Madrid, do seu projeto de restauro e conversão do antigo hospital militar de Granada numa escola de Arquitetura. Uma sala de exposições aberta ao público exibirá os trabalhos dos alunos e servirá como espaço de debate e de participação. Como se o ensino da arquitetura e a realidade na qual esta se insere elaborassem um plano conjunto sobre o seu destino comum6.

Conexões improváveis. Ou talvez não tão improváveis?


Texto traduzido por Inês Veiga.
Notas de página
1

Revista Nature, Vol. 514, outubro de 2014.

2

A ideia de fã, neste contexto, refere-se a entusiasta seduzido, seguidor incondicional e conhecedor infatigável da matéria. No entanto, deve ficar claro que a arquitetura é um serviço e, portanto, requer uma remuneração, perfeitamente compatíveis com o diletantismo e a excelência com a sua atribuição ao campo laboral e crematístico. Fica constatado, amigo Sou.

3

Neste sentido a viajem, habitualmente excluída dos programas de estudo, dos créditos obrigatórios e das disciplinas principais, apresenta-se como uma das armas mais poderosas na aprendizagem da arquitetura a través da sua experiência.

4

El professor terá de moderar, recomendar, selecionar e orientar o aluno neste vasto universo de conteúdos de qualidade e índole assimétrica. A tecnologia apresenta-se sempre como um meio e não um fim em si.

5

Num ambiente de máxima incerteza em relação ao futuro, as capacidades relacionadas com a toma de decisões de forma criativa e vertiginosa impõem-se al mero conhecimento de dados procedentes da antiga cultura do manual. Neste sentido recomendo o interessante debate “Arquitectos, ¿para qué?” impulsado pelo Club de Debates Urbanos de Madrid, com a intervenção de Federico Soriano, (minuto 32-42) onde se explica como uma escola deve propor “condições de meio e não condições de conhecimento”, dando como exemplo os deferentes protocolos de emergência dos astronautas russos (modelo de comportamentos) e dos americanos (modelo de conhecimentos).

6

Com realidade referimo-nos a um âmbito global e planetário; o destino comum faz referência a toda a Humanidade, com as suas diversas manifestações e singularidades.

Por:
Miguel Ángel Díaz Camacho, doctor Arquitecto por la Universidad Politécnica de Madrid. Es el actual Presidente de la Asociación Sostenibilidad y Arquitectura vinculada al Consejo Superior de los Colegios de Arquitectos de España. Dirige la compañía MADC & Partners SLP dedicada a la arquitectura, el urbanismo y el diseño ambiental, obteniendo numerosos premios en concursos nacionales e internacionales, así como reconocimientos a su obra construida. Profesor universitario, investigador, escritor y crítico de arquitectura, es autor, entre otros, de los libros “Párrafos de Arquitectura. Core(oh)grafías” (2016) y “Arquitectura y Cambio Climático” (2018).

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