![los arquitectos son de venus y los clientes son de marte](https://i0.wp.com/blogfundacion.arquia.es/wp-content/uploads/2014/10/blogfundacion.arquia.es-los-arquitectos-son-de-venus-y-los-clientes-son-de-marte-2014.27-02.01-jpg.jpg?resize=265%2C400)
Capa do livro “Los hombres son de Venus las mujeres son de Marte” modificada pelos autores.
“O que elas querem deles, o que eles esperam delas!”
Autores do texto: Raquel Martínez e Alberto Ruiz
Cena I
X., estudante de Arquitetura no seu primeiro ano de Projetos, dispõem-se a expor a sua proposta a Y., professor experto da Área, que o olha com olhos aborrecidos.
Começa a sua explicação indicando por onde se acede ao edifício, qual é o tamanho do átrio e como se distribuem os compartimentos. Y. interrompe-o. Alega que o projeto é aborrecido, que não tem nem alma nem ideia, pregunta pela poética e pelas intenções
X., confuso e algo humilhado, guarda os seus planos e cala-se. Acha que não havia necessidade de chamar a sua avó há conversa.
Cena II
X., após alguns duros anos de carreira, e com o seu recente título debaixo do braço, recebe o seu primeiro cliente, Z., um construtor local que procura um arquiteto jovem para uma pequena promoção de habitações.
- começa por falar da sua proposta de desenvolvimento de atmosferas habitacionais.Da proposta de fusão morfológica que permitirá aos espaços urbanos envolvente sonhar. Z. interrompe-o. Olha para X., bufa, levanta-se e sai do atelier.
X., confuso e algo humilhado, guarda os seus planos e cala-se. Acha que não havia necessidade de chamar a sua mãe há conversa.
Num artigo de Stepienybarno, El lenguaje de los arquitectos (A linguagem dos arquitetos), publicado em La ciudad viva, os autores incidem na diferença entre palavra e palavreado, tão habitual na nossa profissão. Profissão que, regularmente, se queixa da visão distorcida que tem a sociedade do seu trabalho. Não entendemos o facto de que nos identifiquem como o protótipo de profissional caprichoso e pedante, que resulta mais num estorvo que num agente útil no processo de construção dos edifícios.
A culpa, como é habitual, é da calçada. A sociedade não está preparada para as nossas bem-intencionadas propostas. A opinião dos “iniciados” interessa-nos pouco e optamos, demasiadas vezes, por uma linguagem deliberadamente críptica, aprendida e assimilada já nas aulas, que, embora possa resultar poética e evocadora, não só não é acessível, mas que, em geral, está totalmente vazia de conteúdo.
O recente salto ao mundo digital de um conhecidíssimo cozinheiro que, na sua conta de Twitter, se pergunta sobre o conhecimento intrínseco associado aos raviólis propiciou-nos horas de uma saníssima chacota durante o verão. Frequentemente, a procura da transcendência faz-nos cair no mais absoluto dos ridículos. Mas, pelo tema do de pedras no telhado de vidro, convidamos os leitores a abrir uma página ao acaso de alguma revista dedicada à arquitetura. Nós também o fizemos:
“O futuro claustro resultante, (…) constituirá um espaço panótico e fluente que converterá o que era um simples pátio numa homotesia invertida e ampliada da habitação de dupla cara.”
É certo que podemos alegar que este tipo de coisas aparecem em publicações especializadas, e que todos os coletivos têm o seu próprio jargão, como um código interno, apenas conhecido pelos membros da seita. Mas é realmente isso que queremos? Faz algum sentido que nos dediquemos a fechar-nos no nosso mundinho endogâmico enquanto nos afastamos cada vez mais da sociedade que pretendemos servir? Só nos interessa a nossa arquitetura ou deveríamos repensar a forma de a comunicar?
Mas, por outro lado, temos a sensação de que muitos dos membros da seita nem entendem nem gostam deste tipo de linguagem, mas calam-se para não destoar. Ao fim ao cabo, não há nada mais fácil que imitar a tagarelice rebuscada e ausente de sentido1. Deem uma voltinha pela Assembleia se não acreditam…
Resumindo: Menos soluções habitacionais e não-lugares e mais habitações em terrenos vazios!
Texto traduzido por Inês Veiga