Benidorm. (Wikipedia)
Antonio Muñoz Molina dizia, numa entrevista na rádio há alguns anos atrás, que “Espanha está-se a tornar feia”, referindo-se ao legado arquitetónico e urbanístico acumulado desde os anos do desenvolvimentismo. É certo que, nos últimos cinquenta anos, assistimos à desvalorização do cenário urbano, assim como da qualidade ambiental dos espaços abertos e dos meios paisagísticos, tantos costeiros como do interior. Embora pareça incrível, durante vários anos de desenvolvimento desenfreado, não houve presença de arquitetos em muitos dos pequenos municípios, e ainda hoje não os há.
Sem pretender cair em generalizações simplistas, poderíamos dizer que há algumas características que podem ser atribuídas a um arquiteto médio, convertendo-o assim em valioso para diversos perfis laborais requeridos pela sociedade. A propensão à beleza é uma delas. E note-se que isto – por mais elementar que possa parecer num princípio – é um detalhe notavelmente diferenciador. A preocupação pela aparência estética, pela proporção, pela harmonia; o cuidado com os detalhes e a sua relação com o todo; a obsessão com a textura, a forma, a cor das coisas … tudo isto faz do arquiteto um profissional relevante para aconselhar, orientar e guiar as decisões relativas ao design. A aspiração à excelência é a também a chave no perfil de um arquiteto médio. Na educação dada pelas Escolas e Universidades, na disciplina dos concursos (se os havia), na formação através da bibliografia, promove-se o estudo e a comparação permanente com modelos e referentes de alta qualidade, com um grande nível de exigência conceitual, gráfica e programática. O arquiteto pesquisa, explora, desenvolve soluções em busca da originalidade e da surpresa, sem por isso renunciar à eficiência, à economia e à funcionalidade. A capacidade de trabalho e de sacrifício1 é outra virtude necessária numa profissão onde a formação básica é recebida num contexto universitário de reconhecida dureza, não só pela dificuldade ou pela extensão dos programas ou dos temários, mas pela peculiar combinação de matérias dispares que requerem um perfil de estudante multifacetado, um esforço singular que exige carácter e estabelece una marca de identidade que todos entendemos desde o âmbito profissional.2
Estas capacidades formam parte do nosso próprio ADN profissional. E, no entanto, não são fáceis de explicar a terceiros, porque estão tão intrínsecas, tão constituídas no nosso ser, que nos faz falta perspetiva para contá-las de forma sintética e clara, com desapego.
Lamentavelmente parecem não fazer parte dos tópicos pelos quais a sociedade nos identifica. E não há nada mais pernicioso que não ser capaz de conjugar a imagem que se projeta com o é a realidade; e isto parece ser um sério problema da profissão de arquiteto: As pessoas não entendem muito bem o que somos ou o que fazemos, e assim se perpetua uma imagem tremendamente limitada da nossa atividade. A sociedade não sonha connosco, mas forma a uma tribo de sonhadores potencialmente formados para criar beleza a partir da excelência e do esforço. No entanto, no final, apenas uma percentagem muito pequena do volume de trabalho está relacionada com isto. E, no fim, um número generoso de potenciais frentes de atividade escapam-nos para beneficiar outras titulações, e isto sem a ajuda do LSP …3
Parece que hoje, mais que nunca na história da nossa profissão, são necessários argumentos a favor da nossa atividade para nos darmos a conhecer como identidade reconhecível e diferenciada. Precisamos de um marketing coletivo que nos projete em direção à sociedade, que englobe todos os tipos de plataformas de comunicação,4 desde o rigor, a imaginação e – porque não – o sentido de humor e o espírito autocrítico. Temos tão pouco carisma que não despertamos o interesse nem sequer nas séries de televisão ou no cinema (como existem as de médicos ou de advogados), para além de pequenas referências tangenciais – de tão difusa que é a imagem que as pessoas têm do que somos e do que fazemos…
Que motivos podemos dar aos nossos potenciais clientes para recorrer aos nossos serviços? Além de organizar reuniões ministeriais e congressos endogâmicos…o que é que podemos fazer para potencializar a atualização da nossa imagem na sociedade?
Texto traduzido por Inês Veiga