1

Allan Kaprow –A Educação do Não-artista (título original: education of the un artist).

2

David A. Kolb –Experiential learning: experience as the source of learning and development.

3

Giorgio Agamben – ¿Qué es un dispositivo? (Título em português: O Conceito de um Dispositivo) Sociológica, número 73, págs. 249-264
– [O dispositivo] trata-se de um conjunto heterogéneo que incluí virtualmente cada coisa, seja ela discursiva ou não: discursos, instituições, edifícios, leis, medidas policiais, proposições filosóficas. O dispositivo, por si só, é a rede que se estende entre estes elementos.
– O dispositivo tem sempre uma função estratégica concreta, que está sempre inscrita numa relação de poder.
– Como tal, o dispositivo é o resultado do cruzamento de relações de poder e de saber.

A não-educação do arquiteto

Título “La des-educación del arquitecto1

Faz sentido falar de ensinar ou de aprender? Alias, pode-se ensinar ou simplesmente aprender? Será o ensino um mero acompanhamento da aprendizagem?

A aprendizagem é um processo holístico de adaptação ao mundo. A aprendizagem é, basicamente, o principal processo de adaptação do ser humano ao seu ambiente social e físico.2

Considerando que a aprendizagem é de natureza dinâmica, qualquer proposta para o seu desenvolvimento que se proponha como estática carece de sentido; talvez não possamos chamar de aprendizagem ao que se gera, mas de doutrinação.

Aprendizagem:
(De aprendiz)
Que está a aprender uma arte ou uma profissão.
Doutrinar:
Instruir em uma doutrina; ensinar; catequizar;

É um erro de partida que, mesmo entre “os que se preocupam com a questão da docência nas escolas de arquitetura” a pergunta seja: como é que se ensina nas escolas de arquitetura hoje em dia? – e não – Como é que se aprende? Como é que se criam condições que fortaleçam o aluno e permitam a aprendizagem? — Dar a volta a esta abordagem significa uma mudança de perspetiva. Ou seja, o centro da questão deixará de ser o professor – Como é que pode o grande mestre ser capaz de transmitir a sua infinita sabedoria? – para passar a sermos nós – Como é que nós, um grupo de pessoas com uma variedade de experiências, conhecimentos e interesses, ou seja, uma comunidade de aprendizagem, somos capazes de desenvolver essa inteligência face a um campo específico de conhecimento, pensamento e prática concreta: a arquitetura? –

É inevitável reconhecer (por muito que algumas pessoas insistam em ignorá-lo) a relação entre a arquitetura e os processos sociais, políticos e económicos. O reconhecer deste facto implica aceitar a natureza dinâmica da prática arquitetónica, pois nisto consiste a evolução social, política e económica.

Portanto, entender a arquitetura na sua mais estratégica dimensão – como sistema de pensamento e posicionamento face à realidade – leva-nos a concebê-la como gerador de dispositivos, segundo a conceção de Agamben3: condições e qualidades produzidas para interferir na e com a vida íntima e pública das pessoas, da sociedade.

O lugar por onde se deve começar a revolucionar uma disciplina está no modo como esta se aprende, em como se desenvolve e em como evoluciona. É por isso que as nossas escolas têm a obrigação de desenvolver e liderar uma conceção da prática arquitetónica a partir de uma posição pró-ativa e não apenas instrutiva ou estritamente analítica. A universidade é o lugar idóneo para questionar as instituições, para transgredir os limites da disciplina e convulsionar e modificar as convenções sociais, políticas, económicas e tecnológicas. E é aqui onde se tornam necessários agentes que trabalham de forma complementaria a esta disciplina: sociólogos, filósofos, políticos, economistas, etc. e cuja inclusão na docência arquitetónica é indispensável.

No entanto, parece que as escolas de arquitetura são como uma espécie de Olimpo, de onde se esgrimem as grandes verdades académicas, onde se afirmam, reafirmam e se voltam a reafirmar as grandiloquências passadas como verdades universais. E enquanto tudo gira à nossa volta, nas nossas grandes escolas não podemos fazer mais que não seja agarrar-nos desesperadamente para manter-nos quietos.

Por favor, podemos passar à realidade, abrir-nos ao mundo e entender a arquitetura como um lugar mais extenso do que aquele ocupado pelos arquitetos, com questões feitas por arquitetos, para arquitetos e entre arquitetos?


Legenda da fotografia de capa: Demolição das torres AfE da Universidade Goethe (Frankfurt) de 116 metros de altura. Foram os edifícios mais altos demolidos com explosivos na Europa. O ato durou apenas alguns segundos e assistiram milhares de cidadãos curiosos, de acordo com as fontes. Fotografia da autoria da agência EFE, encontrada em www.20minutos.es
Texto traduzido por Inês Veiga.
Notas de página
1

Allan Kaprow –A Educação do Não-artista (título original: education of the un artist).

2

David A. Kolb –Experiential learning: experience as the source of learning and development.

3

Giorgio Agamben – ¿Qué es un dispositivo? (Título em português: O Conceito de um Dispositivo) Sociológica, número 73, págs. 249-264
– [O dispositivo] trata-se de um conjunto heterogéneo que incluí virtualmente cada coisa, seja ela discursiva ou não: discursos, instituições, edifícios, leis, medidas policiais, proposições filosóficas. O dispositivo, por si só, é a rede que se estende entre estes elementos.
– O dispositivo tem sempre uma função estratégica concreta, que está sempre inscrita numa relação de poder.
– Como tal, o dispositivo é o resultado do cruzamento de relações de poder e de saber.

Por:
Maite Borjabad López-Pastor, arquitecta por la ETSAM (2013). Actualmente cursa becada por La Caixa, “Master in Critical Curatorial and Conceptual Pracice in Architecture” en Columbia University. Su práctica e investigación orbitan entre la pedagogía en la arquitectura y la experimentación de nuevos formatos de comunicación e iniciativas de práctica y crítica arquitectónica.

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