Título “La des-educación del arquitecto“1
Faz sentido falar de ensinar ou de aprender? Alias, pode-se ensinar ou simplesmente aprender? Será o ensino um mero acompanhamento da aprendizagem?
A aprendizagem é um processo holístico de adaptação ao mundo. A aprendizagem é, basicamente, o principal processo de adaptação do ser humano ao seu ambiente social e físico.2
Considerando que a aprendizagem é de natureza dinâmica, qualquer proposta para o seu desenvolvimento que se proponha como estática carece de sentido; talvez não possamos chamar de aprendizagem ao que se gera, mas de doutrinação.
Aprendizagem:
(De aprendiz)
Que está a aprender uma arte ou uma profissão.
Doutrinar:
Instruir em uma doutrina; ensinar; catequizar;
É um erro de partida que, mesmo entre “os que se preocupam com a questão da docência nas escolas de arquitetura” a pergunta seja: como é que se ensina nas escolas de arquitetura hoje em dia? – e não – Como é que se aprende? Como é que se criam condições que fortaleçam o aluno e permitam a aprendizagem? — Dar a volta a esta abordagem significa uma mudança de perspetiva. Ou seja, o centro da questão deixará de ser o professor – Como é que pode o grande mestre ser capaz de transmitir a sua infinita sabedoria? – para passar a sermos nós – Como é que nós, um grupo de pessoas com uma variedade de experiências, conhecimentos e interesses, ou seja, uma comunidade de aprendizagem, somos capazes de desenvolver essa inteligência face a um campo específico de conhecimento, pensamento e prática concreta: a arquitetura? –
É inevitável reconhecer (por muito que algumas pessoas insistam em ignorá-lo) a relação entre a arquitetura e os processos sociais, políticos e económicos. O reconhecer deste facto implica aceitar a natureza dinâmica da prática arquitetónica, pois nisto consiste a evolução social, política e económica.
Portanto, entender a arquitetura na sua mais estratégica dimensão – como sistema de pensamento e posicionamento face à realidade – leva-nos a concebê-la como gerador de dispositivos, segundo a conceção de Agamben3: condições e qualidades produzidas para interferir na e com a vida íntima e pública das pessoas, da sociedade.
O lugar por onde se deve começar a revolucionar uma disciplina está no modo como esta se aprende, em como se desenvolve e em como evoluciona. É por isso que as nossas escolas têm a obrigação de desenvolver e liderar uma conceção da prática arquitetónica a partir de uma posição pró-ativa e não apenas instrutiva ou estritamente analítica. A universidade é o lugar idóneo para questionar as instituições, para transgredir os limites da disciplina e convulsionar e modificar as convenções sociais, políticas, económicas e tecnológicas. E é aqui onde se tornam necessários agentes que trabalham de forma complementaria a esta disciplina: sociólogos, filósofos, políticos, economistas, etc. e cuja inclusão na docência arquitetónica é indispensável.
No entanto, parece que as escolas de arquitetura são como uma espécie de Olimpo, de onde se esgrimem as grandes verdades académicas, onde se afirmam, reafirmam e se voltam a reafirmar as grandiloquências passadas como verdades universais. E enquanto tudo gira à nossa volta, nas nossas grandes escolas não podemos fazer mais que não seja agarrar-nos desesperadamente para manter-nos quietos.
Por favor, podemos passar à realidade, abrir-nos ao mundo e entender a arquitetura como um lugar mais extenso do que aquele ocupado pelos arquitetos, com questões feitas por arquitetos, para arquitetos e entre arquitetos?
Legenda da fotografia de capa: Demolição das torres AfE da Universidade Goethe (Frankfurt) de 116 metros de altura. Foram os edifícios mais altos demolidos com explosivos na Europa. O ato durou apenas alguns segundos e assistiram milhares de cidadãos curiosos, de acordo com as fontes. Fotografia da autoria da agência EFE, encontrada em www.20minutos.es
Texto traduzido por Inês Veiga.