“Come In”, do projeto “La Casa – Cuerpo”. Autora: Ángela Rodriguez. Ilustradora e tatuadora em Sherpahead.
Por volta dos anos 80, quando o conceito de rede estava mais relacionado com um círculo local, Isaac Asimov dizia, numa entrevista, que chegaria o momento no qual grandes bibliotecas digitais intercomunicadas possibilitariam “a relação de um a um (mestre-aprendiz, por exemplo) para a maioria“.
A autoaprendizagem não imposta de um ensino não só para os jovens; a possibilidade de seguir a sua própria vocação, de desfrutar aprendendo cada um na sua própria direção.
Se imaginamos esse futuro que hoje em dia já é tão habitual, encontramo-nos com uma surpresa um tanto ao quanto inesperada; que agora não só somos consumidores, como também somos produtores de opinião, de informação e, sobretudo, de projetos; verificamos que não há imposição, direção ou idade, para gerar, desenvolver e partilhar experiências, experimentos e conhecimento.
Atualmente, a linha de separação entre a produção e o consumo de projetos é tão fina como a que separa o bem do mal. Este constante círculo vicioso converte-nos a todos (além de viciados) em algo muito mais importante: independentes.
Há uns anos atrás, o mundo editorial (livros, revistas, música, e tudo aquilo que era suscetível a ser difundido mediante uma “publicação”) guiava-se quase exclusivamente pela tendência. Concentrando-nos agora na arquitetura, a publicação de projetos estava dominada pelas revistas, que obviamente seguem uma linha editorial, da mesma forma que a crítica e a reflexão arquitetónica se limitavam aos livros e à coluna ocasional. O problema era: O que é que acontece quando só uns quantos é que se podem permitir a semelhante inversão? Pois, que se guia o pensamento e se limitam os talentos.
O primeiro exemplo da revolução são os blogs. Blogs como projetos totalmente pessoais, sem nenhuma motivação económica (à partida), ou grandes sites com milhões de visitas, as grandes fontes de consulta de projetos, artigos, notícias e tudo aquilo referente à atualidade da arquitetura. Nos primeiros produz-se uma sinergia, coisa que, quando éramos meros consumidores, era muito difícil de desenvolver. Nos segundos, uma simbiose, na qual se obtém uma fonte de divulgação do seu trabalho, enquanto o outro ganha conteúdo fresco para o seu projeto de comunicação. A oferta multiplica-se, o consumo diversifica-se.
Longe de querer entrar à discussão sobre a qualidade de toda a informação que circula (esse é outro tema), interessa-me focar outro conceito: atualmente, a produção é totalmente indie, e a escolha totalmente livre.
O mercado da Música, Cinema, Artes Gráficas e, obviamente, da Arquitetura, está dominado hoje pelo pequeno produtor, aquele que sempre teve uma personalidade não doutrinada, uma simples e pessoal conceção das coisas, uma rebeldia, uma inquietude, um monstro oculto, uma loucura a contracorrente da grande tendência, não apto para as massas, simplesmente porque estas tinham um maestro de orquestra. O facto é que, o indie, feito para a suposta minoria, representa hoje em dia a maioria.
Todos os pequenos projetos podem chegar a ser muito grandes. A arquitetura construída com palavras, expressa com imagens, rascunhos, ou simples sonhos, também. Sejam bem-vindos, pequenos monstros.
Texto traduzido por Inês Veiga.