Escola ao ar livre no boulevard Bessières, Paris, Agence Rol, 1921 – Fonte: Gallica-BnF.
A pandemia mergulhou a maioria das escolas do mundo na incerteza. Isto é especialmente visível quando se verifica como as medidas tomadas pelos centros educativos têm sido diferentes em cada país. Mas podem os espaços ajudar a proteger a propagação do vírus?
Jakob Brandtberg Knudsen, decano na The Royal Danish Academy of Fine Arts, defende que o incremento da esperança media de vida é devido tanto aos avances médicos e dotação de hospitais como à arquitetura e à engenharia. Destaca especialmente o papel decisivo que tem na saúde canalizar água limpa e evacuar a suja, proporcionar habitações e espaços convenientemente ventilados e com luz natural, e o uso de materiais que evitem agentes patógenos nas ruas e fachadas. No entanto, as doenças de transmissão aérea, segundo afirmou o antropólogo social Christos Lynteris, são as menos propensas a produzir mudanças significativas em cidades e edifícios.1
No entanto, esta última afirmação contrasta com a batalha arquitetónica de algumas escolas no início do século passado para deter a evolução de uma infeção cuja transmissão se assemelha à do coronavírus: a tuberculose. Trata-se das escolas ao ar livre e das escolas bosque. Nelas, predominaram as aulas completamente abertas ao exterior ou, no caso das escolas bosque, inclusive a desaparição material da alvenaria; uma presença permanente da natureza onde o ar, a água e o sol eram elementos fundamentais; e de rotinas académicas que outorgaram tanta importância ao exercício físico e ao descanso como ao currículo, apostando por uma pedagogia que assumia a dimensão completa do indivíduo.2
Casos exemplares destes edifícios são a escola bosque Waldschule für kränkliche Kinder em Charlotenburg (1904) projetada por Walter Spickendorff, a Open Air School em Amsterdão (1927) de Jan Duiker ou a l’école en plein air de Suresnes (1935) dos arquitetos Beaudoin et Lods. Estas escolas reuniam nas suas estâncias três princípios fundamentais da arquitetura moderna: luz, espaço e abertura. Para isso, contavam com grandes superfícies de vidro que diluíam os limites com o exterior, uma generosa ventilação natural e coberturas planas que se podiam usar como terraços transitáveis. Da mesma forma, as estantes e armários de cada aula tinham rodas para facilitar a deslocação das atividades académicas para o exterior.3 Foi após a Segunda Guerra Mundial que estes edifícios escolares foram desaparecendo, uma parte devido à melhora das condições de vida das habitações e, por outra parte, pelos avanços nas vacinas e medicamentos. Além disso, alçaram-se vozes críticas que defendiam que o controlo da aula era mais complexo no exterior e que os alunos se distraíam com facilidade.
Hoje, apesar da consciência sobre as necessidades de saúde e de exercício das crianças, os espaços escolares continuam a estar longe de ter como prioridade o bem-estar físico e emocional das mesmas. Assim, a UNESCO reafirma, nestes tempos de pandemia, que as escolas não são exclusivamente lugares de aprendizagem. Também devem proporcionar suporte social, saúde e apoio emocional, especialmente aos grupos mais desfavorecidos. Portanto, qualquer medida que afete o espaço, deve garantir que este é o contentor onde reverberam tais princípios.
Texto traduzido por Inês Veiga.