Há uns tempos pensei chamar a este artigo Quem tem medo do BIM mau?, mas perguntar da maneira shakespeariana não é a questão. Há muito colegas que ainda não deram o passo e não me apetecia dar imagem de evangelista do BIM porque… não acredito no BIM.
Digo-o alto e bom som. Não acredito neste BIM. Naquele que estou constantemente a ver na internet e que, apesar de ter muitas vantagens, tem também muitos e grandes inconvenientes. Portanto, esmiúço a minha opinião, como quem arranca folhas do malmequer. Espero que vos ajude.
- Mal me BIM. Porque é muito complicado.
Modelar no BIM, que não é o mesmo que fazer um 3D, é complexo e complicado. Como também o é calcular a instalação de climatização numa casa, ou resolver um detalhe de estruturas, e todos o fazem. Já fizeram coisas muito mais complicadas do que aprender a usar um mero sistema informático.
- Bem me BIM. Porque com o mesmo ou até com menos esforço posso produzir bastante mais documentação arquitetónica.
Quando moves uma parede de sítio por primeira vez e vês que todos os planos se atualizam automaticamente é uma experiência indescritível para aqueles que usaram o Autocad’14…
- Mal me BIM. Porque tem um custo elevado de implementação e manutenção.
Embora muitos softwares sejam gratuitos, devemos ter em consideração o preço. Mas, embora estejam a alguma distância dos mainstreamers, já existem versões low cost e inclusive gratuitas do software BIM…
- Bem me BIM. Porque a sua utilização não depende do volume do projeto.
É evidente que uma remodelação de um apartamento não justifica a compra de uma licença, mas também não precisas de te dedicar a projetar hotéis ou aeroportos para que a compra da licença do BIM compense. A poupança de trabalho/incremento de produtividade é altíssima e vale sempre a pena.
- Mal me BIM. Porque não existem standards transversais na indústria.
Não há dxf que permita a troca de informação entre os diferentes agentes. E vocês respondem «há o IF ahahahahaha»… Mas, para quê ter sempre um conjunto de planos perfeitamente atualizado com um simples clique se o construtor os quer em PDF?
- Bem me BIM. Porque a quantidade de informação adicional que podemos introduzir e extrair é enorme.
E este é o meu tema favorito; se fazemos uma boa maquete do nosso projeto, sabendo que podemos ter medições quase perfeitas e sempre atualizadas, deveria ser suficiente, mas há muito mais por onde agarrar.
- Mal me BIM. Porque não posso projetar.
O BIM está pensado de, por e para a construção, e a arquitetura é muito mais e começa muito antes. Os arquitetos técnicos desenrascam-se com o BIM porque sabem que lhes facilita muito o seu trabalho, mas e os arquitetos que gostam de projetar? Como trabalhamos o espaço? Os especialistas em BIM têm ontologias rígidas como mantra, como um HEB300, e baseadas unicamente na construção, mas isto é possível? Pois, deve ser. Tudo é informação.
- Bem me BIM. Precisamente por isto, porque tudo é informação.
Aqui atrevo-me a falar da minha pesquisa de doutoramento. Se conseguirmos traduzir o espaço, que para mim é a matéria-prima dos arquitetos, em informação, podemos torná-lo operativo com novas estratégias de pensamento para o projeto. A partir desta operação, eliminar a distância que separa a fase de idealização arquitetónica da fase de documentação técnica que já se apoia no informacional seria muito mais fácil.
Mas não sei se já se aperceberam, mas o malmequer acaba sempre em bem-me-quer.
P.S.: Se quiserem saber mais sobre minha pesquisa de doutoramento sobre arquitetura informacional, escrevam nos comentários e prepararei mais material.
P.S. 2: Quando falo de arquitetura informacional, não é nem parametricismo, nem design generativo, nem inteligência artificial… é outra coisa.
Texto traduzido por Inês Veiga