Não é de estranhar que, depois de conversar com os arquitetos, surjam caras de perplexidade por parte do espectador que não pertence ao setor.
A expressão «fazer desenhinhos» é comum em relação ao desempenho do estudante de arquitetura durante a universidade.
Essas situações pretendem mostrar, de maneira sarcástica, a grande lacuna que separa o mundo do arquiteto da sociedade. Uma brecha que, do ponto de vista pessoal, começa a fazer-se sentir já desde o primeiro mês de universidade.
Para chegar a uma solução arquitetónica, gera-se um grande número de referências, processos e reflexões técnico-artísticas que articulam condicionantes que aparentemente não têm relação. Uma solução que se materializa num edifício ou no desenvolvimento urbano requer esforço intelectual e trabalho prolongado no tempo. Pode-se usar a metáfora do iceberg, comparando a solução com a parte descoberta do mesmo. O espaço submerso será o processo que, se se conhecera, despertaria o interesse social e diminuiria a lacuna entre arquiteto e arquitetura.
Por esta razão, é importante motivar a curiosidade desde idades precoces.1 O conhecimento gera interesse. Na arquitetura, devemos ter presente que esse interesse deve ser demonstrado à parte criativa ou artística, e também à parte técnica ou de serviço. Embora seja verdade que pela segunda não é tão fácil gerar uma curiosidade ou um interesse.
Nesta missão de gerar interesse, a educação é essencial. Porém, no sistema educativo que conhecemos, predomina a memorização e, por vezes, a explicação prática ou do processo faz falta para chegar a bom porto. Por que dedicamos tanto tempo a explicar as vanguardas históricas no ensino secundário para entender a arquitetura do nosso século? E a arte da abstração que tem muito a ver com a geração de diagramas e a comunicação gráfica na arquitetura? Educamos para promover a memorização de um estilo arquitetónico ou explicamos o processo de mudança até entendê-lo?
Na sociedade hiperligada de hoje, o formato online adquire uma grande responsabilidade em relação à educação e à divulgação. Estes formatos são janelas ou montras2 que o espectador utilizará para ter uma nova perspetiva sobre um tema de conhecimento. Torna-se no canal para complementar um sistema educativo estandardizado.
Exemplos: o Yo Soy Aquitecto apresenta através de artigos a quotidianidade do arquiteto e as inquietudes do inicio laboral; o Control y Gestión de Obras mostra a experiência profissional do seu autor como arquiteto técnico; ou Inteligencia Colectiva, onde se informa sobre projetos mais tangenciais à arquitetura tradicional.
Estes exemplos indicam que temos a solução para preencher a lacuna entre arquiteto e arquitetura. Façamo-nos ouvir, criemos conteúdos de interesse e qualidade para termos pontes com a sociedade crítica e aproveitemos a web 2.0 para isso.
F3 arquitectura, Abril 2020
Texto traduzido por Inês Veiga