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Neste mês de novembro celebraremos 30 anos da queda do muro de Berlim, em dezembro, da morte de Nicolae Ceausescu; esta primavera fez 20 anos desde os bombardeamentos da Sérvia que puseram termo à violenta descomposição da Jugoslávia.

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O exemplo mais famoso é certamente a reconstrução do Palácio Real, em vez do Palácio da República, na Berlim Oriental.

 

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Carta de Atenas, 1931, de Veneza 1964, de Roma 1972 (1989) ou de Cracóvia 2000.

O engano da reconstrução

Reconstrução atual do Palácio Real de Berlim como parte do centro muse al Humboldt Forum.

Reconstrução atual do Palácio Real de Berlim como parte do centro muse al Humboldt Forum.

A reconstrução é uma parte importante da arquitetura: refazer partes de edifícios, bairros ou cidades é a base dos processos da sua reabilitação e, ainda mais importante, da reabitação após catástrofes naturais ou humanas. Voltar a construir é a definição convencional de reconstrução, a primeira que aparece nalguns dicionários. Essa visão “ocidental” acompanhou as reconstruções após as duas guerras mundiais, as revoluções e contrarrevoluções, os fogos ou os terremotos. Na Europa certamente que não faltam exemplos, alguns bastante recentes e ainda presentes na vida quotidiana1.

Desde os anos 70, Josef Paul Kleihues impulsionou, a partir da visão pós-moderna, a “reconstrução crítica” para integrar as diferentes capas de Berlim e devolver-lhe a escala e o caráter da cidade Europeia oitocentista que serviu, nos anos pós-muro, para marginalizar o máximo possível o legado do Este2. Noutros países ex-socialistas, deu-se continuidade a essa ideia transformada numa “reconstrução especulativa” mais nociva, que consistia em edificar um novo volume – de maior superfície – em vez do desaparecido, e relembrar o mesmo através de algum elemento formal ou decorativo. Essa prática resultou numa diversidade de versões do pós-modernismo local, nem sempre em consonância com as diferentes normas de restauração de bens culturais e conjuntos históricos3. Reconstruir um edifício é reconstruir um símbolo, portanto, um ato profundamente político onde o edifício resultante atua como ponte entre diferentes épocas. Ao contrário de se sobrepor à destruição – e é aqui que está o engano –, a reconstrução como um espelho revela-a lembrando as intenções de ambos os processos. É por isso que o dicionário propõe uma segunda definição, mais detectivesca que arquitetónica: “reconstituir, reorganizar, formar de novo, unir”.

Reconstruir também é uma ação cultural e contextual com diferentes significados. As sucessivas reconstruções dos templos xintoístas japoneses são rituais longuíssimos, onde cada parte da construção tem um determinado tempo e sentido. Em vez da procura ocidental de refazer a forma que nunca chega a substituir o original, procura-se a fidelidade ao material e ao processo construtivo, cujo resultado considera-se equivalente ao original. A reconstrução como ação ou como ritual reforça o consenso social que edifica um significado e uma bagagem memorial, importante para contrariar as decisões unilaterais, muitas vezes destrutivas.

Notas de página
1

Neste mês de novembro celebraremos 30 anos da queda do muro de Berlim, em dezembro, da morte de Nicolae Ceausescu; esta primavera fez 20 anos desde os bombardeamentos da Sérvia que puseram termo à violenta descomposição da Jugoslávia.

2

O exemplo mais famoso é certamente a reconstrução do Palácio Real, em vez do Palácio da República, na Berlim Oriental.

 

3

Carta de Atenas, 1931, de Veneza 1964, de Roma 1972 (1989) ou de Cracóvia 2000.

Por:
(Belgrado 1972) Arquitecta por la universidad de Belgrado (1998) y Doctora por la UPC de Barcelona (2006) con la tesis sobe representación e ideología en la obra arquitectónica. Ha co-comisariado con Jaume Prat e Isaki Lacuesta el pabellón Catalán en la XV Bienal de Venecia, en la edición anterior participo en el pabellón de Corea ganador del León de Oro. Ha investigado la modernidad arquitectónica del mundo socialista, escrito y dado conferencias en diversas universidades europeas. Colabora con el departamento de Historia contemporánea de la UAB y es miembro del comité científico del Premio Europeo del Espacio Público.

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