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Vente a Alemania, Pepe*. 3.0 _ Capítulo III. Já tenho uma entrevista, e agora?

Prepara-te para trabalhar.

Sim, sim, porque todos trabalhámos muito e somos sofredores. Fui trabalhador independente durante mais de dez anos em Espanha (e consegui não fechar o atelier), com o qual acredito ter uma certa ordem de magnitude/conhecimento de causa em relação ao quanto e ao como se trabalha em Espanha. A partir desta referência, posso garantir que não trabalhei com tanta intensidade nem tanta concentração durante tantos dias seguidos como isso. Vocês fizeram entregas dessas, monstruosas, de 14–16 horas seguidas, correto? Mas, nessas entregas, levantavam-se, conversavam com os colegas, mudavam de lista de spotify… pois aqui não. Se o teu dia tem oito horas, aqui trabalha-se OITO HORAS, paras para comer (30-60 minutos) e já está. Durante essas oito horas só se trabalha.

A negociação laboral é crucial.

Aqui, antes de começar, negoceia-se tudo. E quando digo tudo, é TU-DO. Temas que se podem negociar: número de dias de férias, horários, redução de horário, que a empresa pague o transporte, que pague o infantário dos teus pequenos, que cubram os gastos de formação da Ordem (tema que falaremos depois), a quantidade de horas que estarás disposto a fazer por mês livremente -grátis- para a empresa (explicação em seguintes entregas)… Na reunião depois do período experimental de rigor também se podem renegociar coisas, mas não é o normal, já que é comum definir este período como marco temporário a partir do qual as tuas condições melhoram para um segundo nível já debatido na primeira negociação e assinatura do contrato… A seguinte oportunidade de negociação, de modo geral, é depois da revisão anual.

O ordenado. Esse dilema.

Desde o ponto anterior, poderias pensar que o salário seria igualmente negociável… pois olha, não é.
Em Espanha sabemos que é diretamente inegociável. A empresa oferece e tu, se queres, aceitas, e se não, toca a andar daqui para fora, pois atrás de ti há mil… Aqui nenhuma empresa define salário nos anúncios de trabalho. Como muito podem mencionar que oferecem um salário superior à média, nada mais. Pedem sempre que, anexado aos teus dados e ao teu Unterlagen (CV, portfolio, etc…), envies a disponibilidade e expectativa salarial (eu nunca o fiz).

Qual é a dificuldade? Então, se chegas à entrevista e pedes menos ordenado do que o que te corresponde, pode ser que o aumentem (já me aconteceu), maaaaas se pedes mais do que o empregador está disposto a pagar por ti, não regateiam. Diretamente não te chamarão depois da entrevista e nunca saberás se te excluíram por não teres o perfil adequado ou se foi por pedires demasiado.
Nesta situação é difícil acertar, mas na AKBW há uma recomendação não vinculante de salários de arquitetos assalariados. Se são recém-licenciados, pensar num T2-T3 não é absurdo. Se já têm alguma experiência, um T5-T6 é um bom objetivo. Agora, pensem que o normal será começar com os ordenados de 1º ano…


*N. de T. Referência ao filme Pepe, vente a Alemania, de 1971, uma comédia que explica a história de um emigrante espanhol, Angelino, na Alemanha nos anos 60, que, ao falar maravilhas da sua estância, convence um amigo, Pepe, a emigrar, e ao final as condições não são as apregoadas por Angelino.
Texto traduzido por Inês Veiga.
Por:
[Miguel Villegas] Soy arquitecto, editor y consultor en arquitextonica, docente en la Escuela de Diseño CEADE-Leonardo y además de desarrollar mi tesis doctoral sobre arquitectura informacional, me dedico a hacer arquitectura al servicio de las personas junto a Lourdes Bueno Garnica en villegasbueno arquitectura. Lourdes Bueno y Miguel Villegas.

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