1

Comunicado que apareceu após a morte de Camillo Sitte. Hooker, George E, Camillo Sitte, City Builder, em: Chicago Record-Herald, Chicago 1903, pág. 6. Citado por Collins, George R., Collins, Christiane C., Camillo Sitte e o nascimento do urbanismo moderno, [1965] (versão espanhola: Barcelona, Gustavo Gili, Barcelona, 1980).

2

Em 1783 produz-se o primeiro voo de balão de ar quente, em 1839 o primeiro daguerreótipo (considerado como o ano 0 da fotografia) e, em 1890, o primeiro voo sem piloto em avião.

3

A primeira fotografia aérea foi realizada por Gaspar Félix Tournachon ao elevar-se sobre a aldeia de Petit-Becetre (França) com a sua máquina fotográfica num balão de ar quente. No entanto, a primeira fotografia aérea conservada é de dois anos depois, realizada sobre Boston, da autoria de James Wallace Black em 1860.

4

Poderíamos referir o exemplo do mito da Antiguidade de Ícaro e Dédalo. Ver Maura, Francisco (3 de outubro de 2006) O mito de Ícaro e Dédalo.

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Instituto Geográfico Nacional e Centro Nacional de Información Geográfica.

O céu sobre…

Em 1904, na edição de 15 de janeiro do diário Chicago Record-Herald, apareceu um comunicado à imprensa que explicava o método de trabalho de campo meticuloso que Camillo Sitte havia seguido e que 30 anos depois lhe serviria para escrever a sua “Construção das cidades segundo os seus princípios artísticos”. De acordo com o comunicado de imprensa, Sitte seguia um meticuloso método para estudar as cidades in situ, pelo qual, após atingir uma nova população, perguntava na biblioteca principal pela torre mais alta e o melhor plano da população. “Seguidamente, depois de ter recortado o mapa em pequenos quadrados mais manipuláveis caso houvesse vento, dirigia-se até a torre panorâmica e passava algumas horas analisando a planificação da cidade”.1

O ser humano sempre procurou ver o mundo desde cima. Quando a natureza não o possibilitava através de miradouros naturais, as construções esbeltas (torres de vigia, campanários) permitiram que o homem se elevasse acima da cidade.2 Mais tardes, os avanços tecnológicos dos séc. XVIII e XIX possibilitariam a primeira fotografia aérea da história, em 1853.3

Finalmente, o desenvolvimento da fotometria e a aviação possibilitariam, no início do séc. XX, os primeiros voos aéreos destinados à ortofotografia.

Boston. James Wallace Black (1860). Primeira fotografia aérea conservada

Foi, sem dúvida, um grande avanço científico. Além da fascinação que aporta contemplar uma vista privilegiada, a ortofotografia foi uma ferramenta útil para muitas profissões, entre elas, a do arquiteto. É inevitável ver as precisas ortofotografias atuais e não pensar naqueles tempos onde ter uma reprodução completa em planta de uma cidade se restringia a desenhos dos antigos planos. Vale a pena, neste sentido, dar uma espreitadela ao projeto Historic Cities, da universidade de Jerusalém, que recopila online planos de cidades antigos.

Sevilha, à esquerda no plano de Braun e Hogenberg (1588) do Civitates Orbis Terrarum IV. À dereita, Sevilha sob o “Voo Americano” de 1956 (fontes: Historic Cities e Consejería de Medio Ambiente y Ordenación del Territorio de Andaluzia).

A arte não foi alheia ao desejo humano de elevar-se sobre o território,4 prendando-nos memoráveis planos zenitais, tanto o cinema como a fotografia. Cabe destacar as numerosas cenas de As Asas do Desejo (Win Wenders, 1987), onde os dois anjos protagonistas observam desde cima a urbe dividida pelo muro da vergonha, e observam, tanto física como conceitualmente, a cidade desde uma visão “celestial”.

Fotograma de O Céu Sobre Berlim (Win Wenders, 1987)

Hoje, no entanto, ver qualquer canto do mundo desde cima é possível sem sequer sair de casa. Passaram apenas 13 anos desde que Google compartilhou com o grande público a sua primeira visão do programa gratuito Google Earth, e do equivalente serviço de cartografia online Google Maps. Ambas as ferramentas permitiram observar com visão de pássaro desde praticamente qualquer lugar da Terra, aproximando assim o mundo físico (embora virtualmente) a qualquer cidadão com uma ligação à Internet. A nível estatal, cabe destacar assim o trabalho de divulgação da fototeca histórica do IGN e do CNIG5 (Espanha), que nos permite “voar” não só no espaço, mas também no tempo. Mais um avanço da globalização que nos permite, qual Ícaro, olhar para baixo, com o mesmo fascínio que sentimos quando voamos de avião e colamos o nosso nariz à janela para contemplar por um momento os telhados, os caminhos, as cidades… o mundo construído sob os nossos pés.

Notas de página
1

Comunicado que apareceu após a morte de Camillo Sitte. Hooker, George E, Camillo Sitte, City Builder, em: Chicago Record-Herald, Chicago 1903, pág. 6. Citado por Collins, George R., Collins, Christiane C., Camillo Sitte e o nascimento do urbanismo moderno, [1965] (versão espanhola: Barcelona, Gustavo Gili, Barcelona, 1980).

2

Em 1783 produz-se o primeiro voo de balão de ar quente, em 1839 o primeiro daguerreótipo (considerado como o ano 0 da fotografia) e, em 1890, o primeiro voo sem piloto em avião.

3

A primeira fotografia aérea foi realizada por Gaspar Félix Tournachon ao elevar-se sobre a aldeia de Petit-Becetre (França) com a sua máquina fotográfica num balão de ar quente. No entanto, a primeira fotografia aérea conservada é de dois anos depois, realizada sobre Boston, da autoria de James Wallace Black em 1860.

4

Poderíamos referir o exemplo do mito da Antiguidade de Ícaro e Dédalo. Ver Maura, Francisco (3 de outubro de 2006) O mito de Ícaro e Dédalo.

5

Instituto Geográfico Nacional e Centro Nacional de Información Geográfica.

Por:
arquitecta (ETSAG), y compagina la actividad profesional con la divulgación, la investigación y la docencia. Es máster en Teoría y Práctica del Proyecto Arquitectónico (ETSAB) y en la actualidad realiza el doctorado en el grupo de investigación Habitar (UPC). Corresponsal de La Ciudad Viva, desde noviembre de 2013 forma parte de Re-cooperar, colectivo de jóvenes arquitectos de Barcelona, con el que ha participado en varios proyectos y ha sido docente de diversos talleres en la ETSA La Salle (Barcelona) y ESARQ UIC (Barcelona).

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