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Superar a adversidade

São muitos os que há anos, e desde varios âmbitos, predicam uma mudança no modo de encarar a profissão. Poucas foram as alterações que tanto as ordens como as escolas favoreceram nesse sentido; a inercia de ambas as instituições obrigou a que a mudança de rumo seja mínima.

Além disso, uma profissão descentralizada face à dureza da crise e à monumental mudança de paradigma também não soube procurar um novo papel para o arquiteto, numa sociedade que obviamente já não exigia o mesmo tipo de profissional.

Talvez o exemplo de Chris Downey, um arquiteto de São Francisco, que no ano 2008 perdeu a visão após uma operação para remover um tumor cerebral, sirva de modelo de adaptação ao contexto. Em certa medida, a preponderância da visão sobre os restantes sentidos tenha construído uma arquitetura, um discurso e uns modelos que mal-entenderam e atrofiaram outras leituras do meio. O seu handicap para um arquiteto pode comparar-se à dor pela profunda surdez sofrida por Beethoven.

No entanto, Chris continua hoje em dia a exercer a profissão, após a sua conversão num pioneiro no campo do Design da arquitetura adaptada a pessoas com algum tipo de descapacidade visual. Com ele próprio admite, e como produto da sua transformação académica, anter de perder a visão focava o seu design à perceção do espaçp, e agora é justamente o contrário, está mais preocupado por como se sentem as texturas dos materiais, a temperatura, a acústica ou inclusive o cheiro de um determinado lugar. É desta forma que constrói um discurso arquitetónico, que cede o protagonismo a todos os sentidos, em detrimento dos aspetos visuais e, portanto, gera uma experiência do espaço mais global, mais multissensorial.

Mas, de um ponto de vista profissional, o mais interessante de Chris Downey é a sua capacidade para repensar a profissão, para responder ante a adversidade e abordar uma nova forma de desenvolver o seu trabalho como arquiteto. Encontrou o caminho adaptando tecnologias de outros campos à sua labor quotidiana. Transformou um sistema de gravura em um novo de impressão, os planos dos diferentes projetos são gravuras em relevo num papel especial, podendo assim interpretá-los ao passar com os seus dedos. Da mesma forma, adaptou a tecnologia de impressão a 3D para poder contemplar os volumes que o seu cérebro construía. E como ele mesmo reconheceu; “Quando estou a ler uma planta de um edifício, a minha mente está a pensar ativamente sobre todos os materiais, a composição, todas aquelas coisas que sempre estiveram à minha disposição, mas que ao ler os desenhos com os olhos acabava por as deixar em segundo plano”

Downey abriu o seu próprio atelier no estado da Califórnia, Architecture for the Blind (Arquitetura para Cegos), através do qual assessora equipas de design, ateliers de arquitetura e organizações que procuram uma experiência tão direta como a sua neste campo.

A cegueira de Downey obrigou-o a voltar a treinar os restantes sentidos, a começar do zero, e pode-se pensar que os seus motivos eram externos.

Mas pode haver algo mais externo que saber que se é necessário e, ao mesmo tempo, rejeitado por uma sociedade em constante mudança?

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