As plantas são o manual de instruções da montagem de um edifício e estão, em grande parte, compostas por desenhos. Desenhos estes que seguem um padrão standard1 que permitem uma compreensão dos códigos para assim evitar o risco de um mal-entendido, dentro das possibilidades. Nem sempre são suficientes, e, por isso, a documentação associada a um projeto de arquitetura é tão extensa.
Este tipo de desenho técnico-arquitetónico quase não evoluiu no último século, embora as ferramentas de criação, essas sim, mudaram. Mas se pensamos bem, na verdade, não gerámos mais que reproduções digitais das clássicas ferramentas. As aplicações de CAD, com o Autocad na liderança2, permitem-nos fazer com o computador o que antes fazíamos à mão, mas não serviram para mudar os códigos de representação. Mudámos de instrumento, mas não mudámos de produto.
O mesmo acontece com o texto (o e-mail não deixa de ser a evolução da carta de papel e envelope com selo). Muda, isso sim, a velocidade3, mas o produto em si mantém-se.
O aparecimento das aplicações BIM4 não mudou substancialmente esta situação, já que, embora representem um salto qualitativo do nível de controlo da documentação gerada e, sobretudo, do seu acompanhamento e revisão, no momento de passá-lo ao papel, continuamos a recorrer aos standards mencionados anteriormente.
Só as aplicações puramente paramétricas, como é o caso da Grasshopper5, é que começam a revelar uma verdadeira mudança no paradigma da produção/geração/revisão.
Na sua relação com as novas tecnologias6, a arquitetura não passou de algo puramente especulativo: produziram-se arquiteturas escravas, formalmente, das aplicações através das quais foram geradas (e, na minoria dos casos, de uma desastrosa utilização das mesmas), mas, na realidade, a produção de documentação arquitetónica foi sempre a mesma que se utilizaria para outro tipo de edifício qualquer. Edifícios estes igualmente sofisticados, que continuam a ter plantas, alçados, cortes e um detalhe construtivo. E o selo de uma assinatura.
Desde um ponto de vista nostálgico e romântico, costuma-se dizer que, com o desenho à mão livre e o posterior passado a tinta com estilógrafos e outros apetrechos pré-digitais, eramos educados de uma maneira mais pausada e melhor. A verdade é que ninguém me ensinou a pensar enquanto desenhava (e se o aprendi fora da escola foi enquanto pintava), da mesma maneira que ninguém me ensinou a fazê-lo enquanto usava o computador. E é possível fazê-lo!
Infelizmente, e embora critiquemos aqueles clientes que pensam que ao apertar a “p”, o projeto aparece do ar, pecamos por pensar que, só porque temos uma ou outra aplicação, já sabemos fazer certas coisas com o computador.
A verdade é que produzimos arquitetura com ferramentas que nos permitem gerar informações muito mais ricas, mais completas e mais produtivas (mas não necessariamente mais extensas) e em pouco tempo, com a implantação real dos meios digitais (chamemos-lhe work-padTM), o papel desaparecerá da obra e, portanto, o acesso a toda a documentação sairá do escritório do capataz da obra para passar a estar no bolso de todos os trabalhadores.
Isto exigirá uma formação especializada, tanto para o que produz a documentação como para o leitor, mas significará, por fim, uma mudança e um passo em frente.
E uma poupança de papel.
Texto traduzido por Inês Veiga.