Mies van der Rohe dando uma classe no IIT, publicada em Life Magazine; encontrada no blog jesarquit.wordpress.com
Eu quero ter um milhão de alunos…1
Autores do texto: Raquel Martínez e Alberto Ruiz
Que Klout teria hoje em dia Mies van der Rohe? E Le Corbusier?
A rede modificou os nossos hábitos, as nossas relações, a forma como trabalhamos e como nos divertimos.
A rede transformou as hierarquias, eliminando as fronteiras entre o experto e o neófito, estabelecendo uma base de relação horizontal onde todas as opiniões têm, à priori, o mesmo valor.2
A rede reduziu as distâncias, possibilitando uma interação de tu-a-tu com pessoas distantes física, social e culturalmente.
A rede é, de momento, o elemento que melhor define o séc. XXI. Por contraste, os estabelecimentos de ensino de arquitetura estão ainda, em muitos aspetos, ancorados ao século XIX. Estruturas e abordagens obsoletas, metodologias desfasadas, que já não servem nem à sociedade nem aos próprios alunos.
Os alunos, hoje, chegam às escolas com muito mais informação à sua disposição que os seus antecessores. Continuam a apelar fundamentalmente à vocação, mas tiveram em conta mais dados além da nota de acesso à hora de eleger os estudos de Arquitetura. Podemos discutir se a informação que manejam é correta, completa, ou se está bem interpretada; mas o certo é que está “aí”, a um click no rato ou um leve roce com a cabeça do dedo.
No final dos anos 90, Josep Quetglás incentivava os alunos de Arquitetura a abandonar as aulas e a aprender através dos livros com os melhores mestres; seria possível, hoje em dia, fazer uma afirmação desta natureza em relação à rede?
Nós, professores de Arquitetura, encontramo-nos perante alunos cuja principal fonte de busca já não é Neufert ou Por uma arquitetura,3 mas sim a Architizer. A arquitetura reduz-se, em muitos casos, a uma imagem enviada de Whastapp em Whatsapp ou que se publica numa conta comum em Tuenti (no caso de Espanha), e que se renova constantemente.4
Face à prontidão e à sobreinformação, o professor só será profícuo se é capaz de se converter num condutor de uma aprendizagem que bebe de muitas outras fontes distintas ao seu discurso.
Talvez o verbo fundamental neste processo necessário de renovação do ensino da arquitetura seja ACOMPANHAR. A rede proporciona-nos uma oportunidade de expandir a escola além do horário semanal marcado pelas aulas.5 Websites, blogs, campus virtuais, grupos de Facebook …, todos eles são plataformas que permitem uma interação contínua entre os alunos e o professor (sem a necessidade de que este seja a peça relevante) além do tempo ordinário consignado.
Talvez por medo de perder o papel predominante no ensino, o uso da rede e das suas ferramentas ainda é muito minoritário entre os docentes e produz-se sempre como uma contribuição pessoal à educação, sem ser regulamentado pelas escolas ou contemplado pelas mesmas. E ainda levanta – pelo menos para nós – muitas questões. De um ponto de vista pragmático, quem é que paga essas horas de dedicação extra? a questões de maior envergadura sobre a gestão dessa relação para-académica com os alunos: devo “pedir-lhe amizade” no Facebook? Devo segui-lo no twitter se ele me segue a mim? É normal enviar um WhatsApp às 23h para avisar que amanhã não poderei ir à aula?
O que é indiscutível é que, como dizia a canção de Dylan, uma vez mais, The Times They Are A-Changin’ , e só entendendo bem o potencial desta mudança poderemos criar umas escolas de Arquitetura que sejam as que os nossos alunos e a nossa sociedade necessitam.