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Tanto o seu pragmatismo como a sua radicalidade seriam marcados pela sua educação. Filho do pintor expressionista Arthur Segal, a sua infância foi passada em Ascona (Suíça), perto da comunidade anarquista Monte Veritá. A sua formação arquitetónica foi marcada pelo ceticismo em relação às formas da primeira modernidade, pelo interesse pela teoria estrutural e pelos ensinamentos aprendidos na oficina de projetos de Hans Poelzig. Ver: John McKean, “Becoming an Architect in Europe between the Wars,” Journal of the Society of Architectural Historians of Great Britain 39, (1996): 124-146.

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Como John Broom, arquiteto que colaborou com Segal, explicaria, a ideia surgiu quando um dos seus clientes decidiu despedir os carpinteiros contratados por Segal para construir a sua casa. Após observar o seu trabalho, o cliente achou que seria capaz de o acabar por sua conta. Ver: Jon Broom, “Walter Segal’s Approach,” Architects’ Journal, 5 de novembro de 1986.

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John McKean, “Einfaches Bauen,” Architese (janeiro de 1987).

Faça você mesmo: o Método Segal

Segal method ©Jon Broome. Fuente: https://www.bmiaa.com/walters-way-the-self-build-revolution-at-aa-school-2/

 

Perante a crescente crise habitacional, algumas das propostas da Bienal de Veneza ou o surgimento de cooperativas como a RUSS popularizaram diferentes estratégias DIY (Do It Yourself). Estas iniciativas podem ser encontradas por primeira vez na Escandinávia no início do séc. XX; no entanto, foram dois projetos do arquiteto alemão Walter Segal no Reino Unido, Segal Close e Walter’s Way, os que nos últimos anos têm vindo a demostrar a sua relevância contemporânea.

O método proposto por Segal (“Segal Method”) é extremadamente prático e simples. 1 Os cimentos são mínimos e a construção pode ser realizada totalmente em seco. As partições não são fixas, a maioria dos componentes apoiam-se uns nos outros, de forma que podem ser facilmente modificados para atender às necessidades dos seus habitantes. Como dizia Jon Broom —arquiteto que trabalhou com Segal—, “Walter reinventou a ideia de construir partindo dos primeiros princípios e reduziu aos seus mais simples termos (…). A sua ideia era usar materiais já preparados, baratos, (…) nas suas medidas comerciais (…).” Tratava-se de um módulo. Como alguns habitantes de Walter’s Way relembram, Segal acreditava que a única habilidade necessária para construir una casa era “ser capaz de cortar em linha reta e abrir um buraco a direito.”

Embora a origem de seu método esteja na casa onde a família do arquiteto morou temporariamente no mesmo terreno de Highgate onde estava a construir a sua própria casa em 1966, a ideia de autoconstrução surgiria mais tarde, quando, em 1971, um dos seus clientes decidiu despedir os carpinteiros que estavam a construir a sua casa.2 Nesse momento, Segal tomou consciência do grande potencial da autoconstrução, pois não era só uma questão de poupar na mão de obra, mas de uma forma de qualificação do cidadão que aportava, também, a possibilidade de criar uma comunidade. A ideia de comunidade traduziu-se, assim, na proposta principal para o espaço urbano. Um espaço que ultrapassava as limitações normativas da largura da rua ou da altura das cornijas para centrar-se nas relações sociais entre os seus habitantes. Como afirmava John McKean, “os cidadãos envolvem-se na criação de um lugar, não na partilha de um lugar já criado.”3

As ideias de Segal representam hoje uma visão renovada do projeto arquitetónico, entendido como empresa coletiva e, ao mesmo tempo, uma importante reflexão sobre o ofício do arquiteto. Do seu ponto de vista, a sua vigência reside no otimismo com o qual Walter Segal fez frente ao exercício liberal da profissão, acreditando que os arquitetos, mais do que manipuladores da forma, são “facilitadores” [enablers] capacitados para propor soluções a problemas sociais a partir da própria disciplina.


Texto traduzido por Inês veiga.

Notas de página
1

Tanto o seu pragmatismo como a sua radicalidade seriam marcados pela sua educação. Filho do pintor expressionista Arthur Segal, a sua infância foi passada em Ascona (Suíça), perto da comunidade anarquista Monte Veritá. A sua formação arquitetónica foi marcada pelo ceticismo em relação às formas da primeira modernidade, pelo interesse pela teoria estrutural e pelos ensinamentos aprendidos na oficina de projetos de Hans Poelzig. Ver: John McKean, “Becoming an Architect in Europe between the Wars,” Journal of the Society of Architectural Historians of Great Britain 39, (1996): 124-146.

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Como John Broom, arquiteto que colaborou com Segal, explicaria, a ideia surgiu quando um dos seus clientes decidiu despedir os carpinteiros contratados por Segal para construir a sua casa. Após observar o seu trabalho, o cliente achou que seria capaz de o acabar por sua conta. Ver: Jon Broom, “Walter Segal’s Approach,” Architects’ Journal, 5 de novembro de 1986.

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John McKean, “Einfaches Bauen,” Architese (janeiro de 1987).

Por:
Arquitecto, vive y trabaja en Londres. Doctor por la ETSAUN (Pamplona), MA en History & Critical Thinking por la Architectural Association School of Architecture (Londres). María ha participado en distintas conferencias internacionales y ha sido también profesor ayudante de la ETSAUN, “Visiting Lecturer” en la School of Creative Arts de la Universidad de Hertfordshire (Hatfield, RU) y crítico invitado en la Architectural Association (Londres, RU).

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