Autor: Juan Trias de Bes / TDB arquitectura
Acaba de se divulgar há umas horas a exposição que Rem Koolhaas inaugurou no museu Guggenheim de Nova Iorque no passado dia 20 de fevereiro. Nesta ocasião, o museu de Nova Iorque reúne uma extensa exibição que resultou da indagação que o jornalista e arquiteto holandês realizou ao longo dos últimos anos no seio do grupo de trabalho Think Tank de AMO.
Há 4 anos, por ocasião do congresso “Arquitectura y Sociedad” celebrado em Pamplona – com a direção de Patxi Mangado – tive a oportunidade de assistir à conferencia do próprio Rem Koolhaas, que havia sido convidado como um dos principais oradores-estrela do certame. Aquela apresentação surpreendeu um auditório multitudinário que esperava algum tipo de revisão antológica do OMA. Na sua conferencia, Koolhaas descreveu como os avanços na produção agrícola tinham sido o gatilho de uma revolução em meios afastados dos núcleos urbanos. A primeira imagem – assim o recordo- era uma comparação entre as dimensões de um trator John Deere dos anos 70 com um atual. O mais moderno, além de não precisar de condutor, tinha um monitor de vídeo e uma máquina de cachorros-quentes na própria cabina do veículo.
Devo admitir que, embora a apresentação de Koolhaas me tenha causado uma profunda impressão naquele momento, agora, através das incipientes notícias e artigos que podem ser consultados nas redes, a exposição deu-me a sensação de estar a perder uma oportunidade. Vou tentar explicar isto.
A exposição realiza um percurso por uma serie de temas relacionados com o território não urbano, no qual o fio condutor são as ações relacionadas com os espaços produtivos que têm como cenário o “countryside”, palavra usada pelo próprio Koolhaas. Giga-indústria, tratores e máquinas de cultivo comandadas através de tablets, drones que controlam as plantações, as ameaças do chamado Permafrost e, finalmente, grandes alterações em extensões geográficas do planeta são os componentes que preenchem o espaço da exposição. Enquanto o próprio Koolhaas admite explicitamente que este não é um assunto relacionado com a arquitetura, Troy Conrad Terrier – comissário da exposição do Guggenheim – descreve-o como um “retrato pontilhista de um território mutante”… – de acordo com as palavras textuais do jornalista do The Guardian, Oliver Wainwright, a exposição exibe “um programa sobre curiosidade e perguntas, em vez de proporcionar respostas”.
Há ocasiões em que a equidistância é favorável para contemporizar, para deixar espaço aos que pensam de maneira diferente ou simplesmente para propiciar um tempo de reflexão e procura de respostas. No entanto, acredito que haja outras ocasiões nas quais devemos posicionar-nos e pronunciar-nos; mesmo correndo o risco de não acertar plenamente. É nisto que consiste precisamente o trabalho do arquiteto… o facto arquitetónico é o resultado do melhor compromisso que os seus autores conseguem obter entre a sociedade e os construtores num determinado intervalo de tempo.
A exposição do Guggenheim é, sem dúvida, um facto arquitetónico; tanto pelo seu continente como pelo seu conteúdo: o Território. Koolhaas tenta atribuí-lo ao campo da antropologia e da sociologia. É possível…, mas Koolhaas também é arquiteto. Existem muito poucos arquitetos no mundo que têm a oportunidade de realizar uma exposição como esta. É ótimo identificar e denunciar situações como as expostas – e por isso deve-se reconhecer o mérito do AMO -, mas parece que se perdeu a oportunidade de situar a Arquitetura – e a sua contribuição – no cenário da revolução do território.
Era a ocasião para falar disto; da oportunidade da Arquitetura na era do pós-humanismo.
Juan Trias de Bes, Barcelona Abril 2020.
Imagem: The Countryside. Guggenheim New York. AMO / Rem Koolhaas. Foto: David Heald.
Texto traduzido por Inês Veiga.