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O World Dataviz Challenge 2019 “é um concurso organizado pelas Câmaras de Barcelona e de Kobe, para que a cidadania contribua para melhorar aspetos da cidade a partir da análise de dados e da sua visualização, que pode adquirir a forma de infografia, gráfico, mapa interativo, etc. O desafio realiza-se paralelamente em ambas as cidades e os trabalhos finalistas são apresentados em Barcelona. Tal como na edição anterior, as visualizações podem ser sobre qualquer tema relacionado com a cidade de Barcelona. No entanto, queremos enfatizar um tema de grande atualidade e impacto: as cidades e o estado de emergência climática, juntando-nos ao Plan Clima que integra todas as linhas de atuação que a Câmara de Barcelona realiza em relação à mudança climática.”

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Red urbana escolar de refugio climático para Barcelona”. Proposta de projeto técnico-participado com mapa de Interface aberta, interativa e online com a superposição de: A. Diferentes redes de cidade (espaços verdes, água, equipamentos e redes de mobilidade sustentável). B. Perfil demográfico dos cidadãos para conhecer as suas necessidades (Densidade demográfica, população infantil, idosos, mulheres). C. Indicadores ambientais (Qualidade do ar, localização de estações e medições de NO2). Autores: mayorga+fontana arquitectos e Jorge Rodríguez Corolari. (City F.O.V. uban Lab).

“Learning from the existing city”: rede de refúgio climático urbano para Barcelona

Analisar dados, examinando a cidade como um conjunto de padrões formados por uma série de subsistemas interrelacionados, serve para verificar os padrões existentes e pode ajudar-nos a detetar outros novos. […] Passamos do processo de análise para a síntese. Este é um importante e decisivo passo no design, que só funciona se se selecionam as variáveis corretas e de maneira criativa”.

Denise Scott Brown, 2004. Translating the patterns. “Architecture as SIgns and Systems”

Entre as propostas vencedoras do concurso World Dataviz Challenge 2019 da Câmara Municipal de Barcelona1, encontra-se a que decidimos chamar “Rede urbana de refúgio climático”, uma plataforma interativa com utilização de dados abertos que relaciona centros escolares, equipamentos educativos, espaço público, mobilidade sustentável e condições socioambientais com o objetivo de facilitar o conhecimento da cidade atual e promover projetos de melhora urbana2. Propõe-se um modelo de cidade entendido como ecossistema urbano no qual os seus subsistemas se articulam entre si, através de uma rede de centros escolares interligados com o espaço público, que serviria de suporte para promover um novo equilíbrio ambiental de sinergias de coisas e relações entre coisas, de edifícios, ruas, árvores, água, estados do ar, pessoas, atividades, meios de transporte, etc. Pretende-se, assim, inovar a partir do existente, ligando passado e presente, para pensar no futuro; de conhecer e re-conhecer a cidade atual como espaço construído, como sistema de relações da vida quotidiana e como conjunto de tendências ou projetos em curso. Sem estas premissas, será complicado poder agir de maneira “inteligente” nas nossas cidades.

É sempre prioritário tornar visíveis as relações urbanas ambientais e sociais, através do uso dos dados – sem nunca esquecer de que estes são um meio e não um fim em si –, uma ferramenta necessária de medida, verificação e visualização que permite re-conhecer a cidade e a sua vida urbana, uma via para promover uma maior governança, transparência e participação, não só a nível cidadão, mas também entre técnicos e instituições. A grande disponibilidade de dados tornou necessário a existência de novas figuras e instrumentos profissionais como os “data Scientist” ou “data visualizer”, para selecionar, processar, mapificar e tornar os dados comunicáveis. No entanto, sem a visão de conjunto ou sem a capacidade articuladora e propositiva que possa provir dos arquitetos e urbanistas, a gestão de dados dificilmente servirá como instrumento para concretizar um projeto de cidade “inteligente”.

Está-se a construir, também, cidades “novas”, “inteligentes” e “sustentáveis”, com uma ampla variedade de soluções tecnológicas que nem sempre representam claras melhorias no design:  Masdar em Emirados Árabes, Songdo na Coreia do Sul ou a Città Foresta no México parecem bairros e/ou ampliações de cidades existentes, onde a “inteligência” não assume a complexidade da vida urbana e, em vez disso, promove a utilização extrema de sensores, a automatização da mobilidade ou faz exaltar o novo paradigma do “verde” como reivindicação de sustentabilidade. Por tudo isto, devemos perguntar-nos: se desde a psicologia humana se fala de “teorias das inteligências múltiplas” e se se identificam pelo menos oito – intrapessoal, interpessoal, linguística, musical, espacial, lógica-matemática, corporal-cinestésica e naturalista –, valerá a pena considerar o problema urbano também desde o ponto de vista desta multiplicidade e complexidade de inteligências? Se se fortalecem as relações e o potencial das diferenças, dos conflitos, mas também das sinergias, começaremos a ter sempre premissas fundamentais mais claras: que o espaço construído, o espaço público e as condições ambientais são indivisíveis e, sobretudo, que a cidade do futuro é antes de mais a cidade do presente.


Texto traduzido por Inês Veiga

Notas de página
1

O World Dataviz Challenge 2019 “é um concurso organizado pelas Câmaras de Barcelona e de Kobe, para que a cidadania contribua para melhorar aspetos da cidade a partir da análise de dados e da sua visualização, que pode adquirir a forma de infografia, gráfico, mapa interativo, etc. O desafio realiza-se paralelamente em ambas as cidades e os trabalhos finalistas são apresentados em Barcelona. Tal como na edição anterior, as visualizações podem ser sobre qualquer tema relacionado com a cidade de Barcelona. No entanto, queremos enfatizar um tema de grande atualidade e impacto: as cidades e o estado de emergência climática, juntando-nos ao Plan Clima que integra todas as linhas de atuação que a Câmara de Barcelona realiza em relação à mudança climática.”

2

Red urbana escolar de refugio climático para Barcelona”. Proposta de projeto técnico-participado com mapa de Interface aberta, interativa e online com a superposição de: A. Diferentes redes de cidade (espaços verdes, água, equipamentos e redes de mobilidade sustentável). B. Perfil demográfico dos cidadãos para conhecer as suas necessidades (Densidade demográfica, população infantil, idosos, mulheres). C. Indicadores ambientais (Qualidade do ar, localização de estações e medições de NO2). Autores: mayorga+fontana arquitectos e Jorge Rodríguez Corolari. (City F.O.V. uban Lab).

Por:
Maria Pia Fontana, Profesora de la Universidad de Gerona (UdG). Doctora en Proyectos Arquitectónicos (UPC). Postgrado en Proyectación Urbanística (UPC). Arquitecta Universitá degli Studi di Napoli. Miguel Mayorga Cárdenas, Profesor Universidad Politécnica de Cataluña Barcelona (UPC). Doctor en Urbanismo y Gestión del territorio (UPC) Máster en Proyectación Urbanistica (UPC). Arquitecto Universidad Nacional de Colombia (UNAL). Bogotá. Profesores colaboradores de la (UOC). Actualmente investigamos sobre cultura visual, arquitectura, ciudad y fotografía. Trabajamos sobre la habitabilibilidad y sostenibilidad arquitectónica y urbana con el uso de las nuevas tecnologías y nuevas modalidades de procesos técnico-participativos, en el desarrollo de proyectos urbanos, equipamientos, centros y entornos escolares, con énfasis en el diseño del espacio público y colectivo. Socios de mayorga+fontana arquitectos.

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