1

Guelda Voien: These 7 Proposals to Redesign Notre Dame de Paris Are Meant to Start a Debate. Architectural Digest (Maio de 2019)

2

Norman Foster promete construir todos os seus edifícios “zero emissões” em 2030. World Green Building Council (Maio de 2019)

3

O maior argumento a favor do betão está na densidade que é capaz de dar à formação da cidade. A densidade é sustentável.

4

O que chama mais a atenção é que tradicionalmente este sério atelier não tinha concentrado as suas energias neste campo. Design Boom (Outubro de 2019)

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A morte como em casa…, Natasha Lev: Exit Here funeral parlour is designed to have “the eclectic feel of home”, Dezeen (Outubro de 2019) ou a morte, também, ecológica… Bridget Cogley: Olson Kundig unveils Recompose Seattle facility for composting human bodies, Dezeen (Novembro de 2019)

Após a arquitetura do espetáculo

Snøhetta, The Arc, Centro de visitantes para o Museu de sementes em Svalbard, imagem © snøhetta and plomp

Ninguém a certidão de óbito da “arquitetura do espetáculo”. Mas a verdade é que, nos últimos anos, o número de obras cujo objetivo principal era meramente impressionar, causar um impacto massivo e indiscriminado na retina, reduziu-se drasticamente. Talvez a tumescente crítica de arquitetura tenha finalmente alcançado os seus objetivos quando se trata de denunciar os seus abusos. Embora possa ser mais verosímil pensar que, como fenómeno, a arquitetura do espetáculo nada mais foi do que uma tendência que percorre a história e que se limitou a emergir e a autoextinguir-se, sem chegar a desaparecer completamente…

As causas desta mudança de signo podem estar no ocaso de um modelo de negócios, deslocado, lenta mas inexoravelmente, para outros territórios de maior rentabilidade. Se o emprego de milhões parecia dar rendimentos sociais, económicos e políticos praticamente imediatos com a construção de fachadas e formas inverosímeis, o investimento privado descobriu que, com o espetáculo edificatório, com a mera surpresa, o negócio não era suficiente. E ainda por cima o turismo não repetia a visita. Parecia inevitável: agora todos querem mais. E diferente. Mas, o que é que a arquitetura ainda tem para oferecer?

Se os estertores do espetacular se podem ver nos inúmeros desenhos apresentados como alternativa à reconstrução da catedral de Notre_Dame, onde se propôs refazer a sua cobertura com piscinas, um foguetão espacial, estufas, agulhas quase infinitas, garagens, telhados de vidro e até um McDonalds, a verdade é que esse uso do espetacular não manifestou outra coisa senão a sua extenuação1. Nem sequer os arquitetos que contribuíram filantropicamente com a sua visão redentora obtiveram o impacto publicitário desejado.

Todos são conscientes de que outros modelos, cujo centro seja a arquitetura, são necessários. O meio-ambiente é um daqueles eixos nos quais o design do presente imediato se move. Mas a verdade é que, por agora, o mero “ornamento do ecológico” parece não ter sido superado. A parafernália de painéis solares, moinhos de vento e recicladores de água, ou mais recentemente os jardins em fachadas que absorvem dióxido de carbono, são a sua imagem. Infelizmente, na arquitetura, o verdadeiramente ecológico ainda é uma promessa ou está vinculado a soluções sensivelmente ligadas ao local2. Por muito bem-intencionados que sejam os círculos de arquitetos contra as catástrofes meio ambientais, os seus resultados não foram além dos obtidos pelas cimeiras sobre o clima…  Afinal de contas, uma parte da profissão está convencida, e com argumentos, de que o betão é o mais ecológico que temos por agora3.

Por enquanto, o mercado parece focado em oferecer outros tipos de experiências aos seus utilizadores. Mais sensacionais. O atelier Snøhetta projetou na Noruega um restaurante debaixo de água. Jantar num aquário rodeado pela fauna da costa é uma experiência que nos consciencializa para a riqueza do fundo marinho. Uma experiência que pode não ser uma novidade, mas que é significativa. O mesmo atelier norueguês projetou um centro de visitantes no cada vez menos congelado Ártico4. A experiência ecológica vende. E é aí que o ecológico parece encontrar o maior apoio por parte do mercado. Mas o verde não é, nem de perto nem de longe, a única das experiências possíveis, mas apenas um exemplo que revela esta mudança de foco na “arquitetura sensacional”.

A lista destas experiências começou a ganhar impulso e velocidade. Anestesiados perante os estímulos quotidianos, tornámo-nos colecionadores de experiências. A arquitetura não é o seu suporte, mas é nela que recai a responsabilidade de as fornecer. As mais extremas exploram-se agora como negócio: Sentir a morte de uma maneira diferente5, viver as dificuldades de habitar em Marte, na doçura da casa da Barbie ou na dureza de um refúgio pós-apocalíptico são só mais alguns exemplos da imensa amostra que se apresenta como o mais recente campo de ação da arquitetura pós-tardo-neo-capitalista…

Era difícil imaginar que a próxima idiotice após a era do espetáculo fosse a de uma arquitetura sensacional. Embora no seu pior sentido.


Texto traduzido por Inês Veiga
Notas de página
1

Guelda Voien: These 7 Proposals to Redesign Notre Dame de Paris Are Meant to Start a Debate. Architectural Digest (Maio de 2019)

2

Norman Foster promete construir todos os seus edifícios “zero emissões” em 2030. World Green Building Council (Maio de 2019)

3

O maior argumento a favor do betão está na densidade que é capaz de dar à formação da cidade. A densidade é sustentável.

4

O que chama mais a atenção é que tradicionalmente este sério atelier não tinha concentrado as suas energias neste campo. Design Boom (Outubro de 2019)

5

A morte como em casa…, Natasha Lev: Exit Here funeral parlour is designed to have “the eclectic feel of home”, Dezeen (Outubro de 2019) ou a morte, também, ecológica… Bridget Cogley: Olson Kundig unveils Recompose Seattle facility for composting human bodies, Dezeen (Novembro de 2019)

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Arquitecto y docente; hace convivir la divulgación y enseñanza de la arquitectura, el trabajo en su oficina y el blog 'Múltiples estrategias de arquitectura'.

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