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Koolhaas, R. Generic city. Sassenheim: Sikkens Foundation.(1995)

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Koolhaas, R.  Generic city. Sassenheim: Sikkens Foundation. (1995).

A cidade genérica. Global enfrenta o local

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Vivemos num mundo em acelerada mudança, que impõe resultados rápidos, demanda experiências imediatas e onde a imagem é a nova realidade. A globalização encurtou distâncias, diminuiu o fator temporal, transpondo barreiras geográficas e culturais. Qualquer coisa em qualquer lugar é o motto da nova era. A cidade de hoje é produto das sinergias do pós-moderno, do capitalismo, do turismo em massa e de um fluxo de ideias, culturas e intenções diversas. A malha urbana é contruída segundo as leis da oferta e da procura, cortando muitas vezes os laços com o passado, submergindo culturas e instaurando uma nova identidade: a global.

 

Mas não é por isto que a cidade genérica é homogénea, como diria Koolhaas, a variedade é tão grande que chegamos a um ponto de “varied boredom”1 . Existe nela um clima de caos de formas díspares, funções e momentos. A repetição é a exceção.

 

“A cidade genérica é superficial como um lote de um estúdio de Hollywood, consegue produzir uma nova identidade a cada segunda-feira” 2

 

Será que estamos a perder a alma das nossas cidades em nome de um funcionalismo absoluto? A cultura do lugar é imperativa para a saudável vida da cidade, é esta que permite distinguir Lisboa de Nova Yorque, Paris ou Barcelona. A calçada portuguesa ou a arquitetura de Gaudí são uma herança a preservar.

 

É imperativo dar voz aos habitantes, aos movimentos culturais, à arte urbana. Cabe também aos urbanistas e arquitetos implementar soluções que se integrem no local. Em Lisboa, foi proposta para a Av. Almirante Reis, uma das principais artérias da cidade, uma torre multifuncional de 60m ao longo de 16 andares, uma intervenção pouco integrada com a envolvente, numa localização onde predominam edifícios de baixa altura e uma forte comunidade local, que já se manifestou contra o que consideram algo desadequado para o local, que criaria uma enorme sombra nas ruas circundantes.

 

A cidade não pode perder a sua ligação com o passado, a imprevisibilidade que a torna peculiar para se tornar num lugar exclusivamente de consumo, fácil e ordenado. O centro da cidade corre o risco de se tornar um lugar exclusivo para as classes altas e para o turismo, tornando-se a periferia num dormitório, onde predominam aglomerados habitacionais que limitam a interação interpessoal direta. A rua deixa de ser um lugar de encontro e produção cultural para se tornar numa mera via.

 

Se na Europa o passado das cidades ainda é em grande parte respeitado, é em algumas cidades na Ásia e Estados Unidos que a identidade do lugar se perde por completo em nome do pragmatismo neoliberal. Cidades simplificadas, adaptáveis, reutilizáveis e de produção em série. Cidades como o Dubai foram eximiamente planeadas, uma cidade-máquina ao estilo pós-moderno que funciona quase como um parque temático. É um modelo que pode facilmente ser copiado para outro lugar.

 

Uma cidade sem história nem estórias é a constante da cidade genérica. Marc Augé definia, num contexto de “supermodernidade”, como “não-lugares” espaços transitórios onde havia uma inexistência de relações antropológicas, tais como o aeroporto, o centro comercial ou as grandes vias automóveis. O que será da cidade quando os lugares perderem a sua relação com a história? Um mapa onde se transita entre “não-lugares”? A cidade deve, primeiro que tudo, ser construída num processo de diálogo constante entre o local e o global. Não podemos deixar que as cidades percam a sua identidade, aquilo que faz delas um lugar único.

Notas de página
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Koolhaas, R. Generic city. Sassenheim: Sikkens Foundation.(1995)

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Koolhaas, R.  Generic city. Sassenheim: Sikkens Foundation. (1995).

Por:
(Coimbra, 1991) POR Arquiteto recém-graduado pela Universidade de Coimbra, estando um ano de Erasmus na HCU em Hamburgo, cidade onde também realizei um estágio pelo mesmo programa. Considero a viagem das coisas mais importantes na formação do arquiteto e interesso-me particularmente pelo urbanismo e modo de habitar a cidade.
  • Carmen Martín - 22 Setembro, 2019, 16:15

    Me apacigua saber que aun podemos cuestionarnos qué ocurre en las ciudades, que pena cuando no podamos preguntarnos si queremos conservar la historia de las ciudades del pasado, haciéndolas participe con las ciudades del futuro…

    Ojalá no dejemos que el capitalismo nos robe los “si lugares” de nuestras ciudades.

    Gracias Paulo por compartir tu reflexión…

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