Jorge Toledo

Porque deverias deixar de pôr (só) um © no teu trabalho

Do copyright ao copyleft.

Já é praticamente um reflexo automático. Criamos um texto ou uma imagem, fazemos o upload na web, e adicionamos apressadamente um pequeno ©. Fazê-lo dá um certo gosto. É o nosso selo final. A cereja no topo do bolo. Já estamos seguros. Ninguém roubará o nosso trabalho.

Em muitos casos, nem sequer pensamos porquê. O que é que nos podem roubar? Estávamos a pensar vender essa fotomontagem a outro cliente? Íamos cobrar pela publicação dessa memória de projeto nalgum sítio? Estávamos à espera de viver às custas dos direitos de reprodução desse plano de fundações? O nosso vídeo ia aparecer nas melhores salas de cinema?

Em arquitetura, as plantas, as fotomontagens, os textos, os renders, as fotografias ou os vídeos que produzimos nada mais são do que a expressão gráfica daquilo que pensamos ou fazemos. O que para ilustradores, escritores ou fotógrafos é a obra em si, para os arquitetos é rara a vez que passe a ser um meio de expressão. O que já não é pouco, mas também não é mais que isso.

E pôr-lhe copyright a um meio é, quase literalmente, matar o mensageiro, ou, no mínimo, é atar-lhe os pés e as mãos. Na verdade, o melhor que pode acontecer àquilo que fazes… é precisamente que aconteça alguma coisa. Que alguém publique no seu site (e o teu copyright dificulta), que o apresente numa exposição (e o teu copyright dificulta) ou que o adicione num trabalho académico ou aula como referência (e o teu copyright, sim, dificulta!), entre outras coisas.

Impedir a partilha ou a copia destes materiais é, portanto, tão absurdo como impedir que as pessoas tirem fotografias às tuas obras construídas (e sim, alguns há anos que pensam nisso). É dar-se um tiro no pé e, sobretudo em plena era da informação partilhada, lutar contra a natureza humana e querer por limites ao infinito. Até mesmo aqueles que vivem diretamente daquilo que partilham (ilustradoresmúsicosescritores, etc.) estão ao aperceber-se.

A questão que coloco não é tanto se se deve por ou não o copyright, mas o porquê de o fazer. Porquê deixar as nossas criações encerradas (e duvidosamente seguras) escondidas atrás de uma cerca legal que quase não nos beneficia e que dificilmente podemos vigiar? A sério que ganhamos algo com isso? Sabemos o custo da oportunidade que se nos apresentaria em termos de divulgação ou de reputação para nós e de valor de uso para outros? Ou fazemo-lo por simples costume?

Se realmente gostas delas, deixa-as ir; deixa que cheguem a lugares onde tu não terias capaz de as levar, faz com que… olha, põe a frase de autoajuda que quiseres, mas deixa que se possam partilhar e descarregar facilmente. Não lhes ponhas impedimentos artificiais. Põe um link de download. E dá-lhes licença livre, que te permita manter todos os direitos que quiseres e, ao mesmo tempo, facilitar que outros partilhem o teu trabalho.

 

Dá, literalmente, uma volta. Na próxima vez que publiques alguma coisa, faz _mirror a esse © para deixar em copyleft, ou um _copy para que passe a ser CC.


Texto traduzido por Inês Veiga.
Por:
Jorge Toledo García es Arquitecto y trabaja en la facilitación de procesos de desarrollo de organizaciones, arquitectura y espacios públicos o comunitarios. Intersado tanto en el "cómo" como el "qué", trata de aplicar los principios de la colaboración y la cultura libre a todos esos ámbitos.

Deja un comentario

Tu correo no se va a publicar.

Últimos posts