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Emerald necklace, Frederick Law Olmsted. Wikipedia. Original plan of the necklace from 1894
Frederick Law Olmsted surpreender-se-ia se soubesse que o seu projeto para o Black Bay Fens, a origem do celebrado Emerald Necklace da Boston do séc. XIX, seria hoje um “projeto Horizonte 2020” e um exemplo de solução baseada na natureza. Uma Nature Based Solution (NBS) é uma ação reparadora a escala urbana ou territorial que integra materiais, processos e estratégias naturais num projeto, implementação e desfrute posterior, superando tratamentos cosméticos, de “verdejo”1. Assim, o resultado do sistema de gestão de áreas pantanosas que afetavam a cidade de Boston foi um dos primeiros exemplos de anel verde (neste caso colar de esmeraldas), em vez de um sistema de escoamento atual.
Quando falamos de uma NBS, referimo-nos a uma infraestrutura verde e azul, um exemplo de paisagismo, uma peça de landarch, etc. Tenho consciência das diferenças que existem entre estes termos, mas há algo de todos eles que está presente em projetos como o de Olmsted para Boston, nas decisões sobre os parques inundáveis de Curitiba, com as ovelhas a pastar nos mesmos2 (minuto 8:33), e em todos aqueles que vos venham à cabeça neste momento. E embora já sejam conhecidos, com o seu estudo e divulgação, há algo novo debaixo do sol3. Um pequeno, mas importante, detalhe: a passagem de uma atitude reativa às estratégias regeneradas de caráter proativo, das quais Miguel Ángel Díaz Camacho falava no blog há uns meses4.
Sou sempre o mesmo… já escrevi metade do post e não me cabe tudo o que quero dizer. Três coisas rápidas para acabar:
Devemos estar atentos para não tornar algo que conhecemos do nada numa “disciplina”. Não tornar estas NBS num conjunto de regras e parâmetros desprovistos da poética, da instituição e, sobretudo, do senso comum dos exemplos que antes comentávamos. Os números são importantes, mas não são o projeto em si (coisa que digo sempre aos meus alunos quando acabo de explicar um sistema de indicadores de sustentabilidade)
Temos de ter presente que estas soluções não só são as mais adequadas porque a sua imagem é mais agradável que um canal de betão (estaríamos novamente perante a conceção de verdejo), mas por todos os “benefícios colaterais” sociais, económicos e culturais que aportam. Estas soluções proativas tornam-se espaços de ócio, lugares de encontro, áreas de ativação económica local ou de recuperação de espécies, labores e tradições.
E por último, e talvez o mais maravilhoso, é que podemos encontrar exemplos como esta simbiose entre infraestrutura e natureza, poder dar lugar a espaços naturais protegidos, desde aqueles que são planificados, geridos e controlados5, a outros que aparecem casualmente6.