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Uma visita ao Concéntrico_05

Sejamos realistas: é impossível pretender estar bem informado sobre o que acontece no panorama da arquitetura espanhola, o qual não me serve como desculpa para confessar que não tinha a mais pequena ideia da existência de Concéntrico, até que fui convidado a encerrar esta quinta edição como parte da equipa Escala Humana, juntamente com Núria Moliner e Jaume Clèries. Não podemos estar mais agradecidos com a organização. Nem mais emocionados pelo que ali aconteceu. Infinitos obrigados.

Mas é melhor fazer justiça ao festival.

Logroño é uma cidade agradável, com um centro urbano sem tráfico, um bom sítio para passear, com bons acessos ao leito do rio Ebro. E com património. Muito património. O Festival Concéntrico celebra o espaço público através de intervenções urbanas escolhidas por concurso, intervenções que, quando funcionam (o que acontece quase sempre), fazem entrar esse espaço público em ressonância, possibilitando que muitos dos habitantes da cidade, que já o vivenciam diariamente, se apercebam dos mesmos por primeira vez. Concéntrico reforça a consciência do que é a cidade através de uma ação que eventualmente se pode converter em reflexão. Estas intervenções complementam-se com debates e performances que se agregam e potenciam a ideia mãe.

É impossível falar do Concéntrico e não referir a sua organização. A alma mater é Javier Peña, um arquiteto que conseguiu reunir uma equipa de voluntários entusiastas, os quais devemos homenagear. A visão de Peña dotou o festival com duas leituras: a local sobre o espaço público de Logroño, e penso que o facto de não ser originário da cidade foi a chave para entender o sucesso do evento, pois conseguiu que as atuações abranjam todo o centro histórico, permitindo uma reflexão sobre a cidade no seu conjunto, uma espécie de visão em verdadeira magnitude, e (a preferida do arquiteto) a produzida ao aproveitar o que Logroño tem de cidade genérica que, vista como caso de estudo, possibilita uma reflexão sobre o espaço público extrapolável a muitos outros espaços urbanos de muitos outros países.

O resultado: gente. Muita gente. Gente que segue as visitas guiadas ao festival (a última contou com umas 250 pessoas, mas já a anterior tinha sido bastante positiva, com 150 mais, basicamente público local). Gente, sobretudo crianças, muitas crianças, que brincam com as instalações: gente, portanto, que gozava o espaço enquanto adquerem uma visão crítica da qual pelo menos as crianças da minha geração pudemos desfrutar. O Concéntrico já adquiriu uma personalidade própria. A impressão que tive foi que, já impulsionada pelas suas cinco edições, tem um longo percurso pela frente. Bastante longo. Depois do encerramento, estava a falar com umas voluntárias, às quais disse que para o ano que vem superarão. Com caras amedrontadas, responderam-me que não sabiam como. Nem eu. Mas o certo é que o conseguirão. Eu sei. Voltarei para presenciá-lo.

Fotografias gentileza de Javier Peña + Concéntrico

Por:
(Barcelona, 1975) Arquitecto por la ETSAB, compagina la escritura en su blog 'Arquitectura, entre otras soluciones' con la práctica profesional en el estudio mmjarquitectes. Conferenciante y profesor ocasional, es también coeditor de la colección de eBooks de Scalae, donde también es autor de uno de los volúmenes de la colección.

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