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1

M. Tafuri. Architecture and utopia: design and capitalist development, 1976.

2

P. Mondrian, De realiseering van het neo-plasticisme in verre toekomst en in de huidige architectuur, 1922.

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V. Flusser, Hacia una filosofía de la fotografía, 1990.

4

Conceito alternativo ao freudiano “retorno do recalcado”, proposto por P. Sloterdijk e levado à arquitetura por J. R. Moreno Pérez. Ver: https://idus.us.es/xmlui/handle/11441/56777

Ensambladuras heterogéneas: Novas dimensões do projeto no seio da cultura tecnográfica

Real State Boom House. Subprojecto de confeção de cortinas de Lluís Alexandre Casanovas e de sua mãe, María Luisa Blanco. Fotografia de Pol Rebaque.

No início do séc. XX, o neoplasticismo e o construtivismo inseriram pela primeira vez a arquitetura na temática das vanguardas históricas: a união total das artes e a sua projeção sobre o meio ambiente e formas de vida como origem de uma transformação sociopolítica vindoura. É um facto singular que a chave para esta revolução imaginada desde as práticas artísticas fosse a arquitetura: se a arte flutuava sobre a realidade sem tocá-la, a arquitetura poderia ensamblar-se com ela, afetando-a completamente. Reivindicando esta condição estratégica, quando Le Corbusier e a Bauhaus entram pouco depois nesta problemática, procuram a integração da ensambladura arquitetónica na “jamais questionada” civilização maquinista. Através da criação do CIAM, a arquitetura experimental europeia reivindicou o seu papel privilegiado como mediação técnica por excelência no descomunal processo de mudanças económicas, sociais e culturais, precipitado pelo desenvolvimento tecnológico. Anos depois da dissolução do CIAM, Manfredo Tafuri confrontou a profissão com a ambiguidade deste posicionamento, deixando-a com um intrincado nó de preguntas ainda vigente sobre o papel da prática no espaço social.1

A integração produtiva da ensambladura arquitetónica moderna exigiu uma redução da complexidade e profundidade inerente às problemáticas abordadas pelas vanguardas históricas, algo que com o tempo a enrijeceu. Atualmente, são as novas tecnologias as que exercem essa mediação técnica privilegiada entre os sujeitos e o ambiente que a arquitetura queria para si. Com elas, o sonho da união entre meio ambiente, técnica e criatividade da ensambladura vanguardista parece ter-se cristalizado ao final. Como Mondrian preconizou graças às novas tecnologias, a imaginação e a criatividade vão ao encontro de todos e cada um dos fragmentos quotidianos que nos rodeiam2, convertidos em recursos disponíveis para que componhamos caprichosamente a nossa forma de vida, isso sim, através do consumo compulsivo. Neste turvo estado de “libertação”, a arquitetura perdeu o seu papel “configurador”, mas encontrou o seu lugar nas novas formas de valorização económica, exercendo o que Vilem Flusser denominou de tecno-imagem: cenas capazes de codificar orientações para a existência, modelos de vida e regimes de valor que nos indicam onde, como, com quem e com o quê ensamblar-nos neste mundo.3 Esta condição ambivalente foi antecipada por Tafuri. A partir das vanguardas arquitetónicas, por “forma” havia que entender “imagem”: uma natureza morta heterogénea que compõe território, paisagem, preexistências e práticas numa forma particular e não outra. O seu paradigma seria o Plano Obus para Argélia, com o qual Le Corbusier tentou recuperar, em parte, a heterogeneidade da ensambladura.

A condição paradoxal das imagens, capazes de vincular por arte mágica realidade e ficção, factos e sonhos – aí reside o seu valor económico – intensificou-se vertiginosamente no seio da cultura tecnográfica: não só a arquitetura, mas tudo o que nos rodeia, fácil de mediar visualmente, é uma potencial tecno-imagem.

Isto deixa a arquitetura numa conjuntura económica, material e cultural ainda mais confusa, atualmente explorada por uma série de projetos que apostam em voltar  a elevar, face ao estado das coisas, o horizonte da imaginação política em arquitetura. Trabalhos como o Edificío Jardín Hospedero y Nectarífero de Husos Arquitectura em Cali, os Veranos de la Villa ou a sede de Save The Children de Elii em Madrid, a Real Estate Boom House de Lluís Alexandre Casanovas em Cardedeu, o Jardim Cosmopolita Kleos de Antropoloops para Luces de Barrio (Nomad Garden) em Sevilha ou as muitas investigações de Andrés Jaque, procuram um equilíbrio no heterogéneo, dotando de profundidade concreta e virtual as superfícies do real, isto é, “editando” os modelos inscritos nelas. Numa espécie de regresso dos incompreendidos4, reabilitaram o interrogante cancelado há um século atrás de como mudariam as formas de viver e de nos relacionarmos se o nosso ambiente quotidiano se conformasse desde a gestão criativa, colaborativa e crítica de uma realidade cuja eclosão forma um novo tipo de substrato ecológico.

Notas de página
1

M. Tafuri. Architecture and utopia: design and capitalist development, 1976.

2

P. Mondrian, De realiseering van het neo-plasticisme in verre toekomst en in de huidige architectuur, 1922.

3

V. Flusser, Hacia una filosofía de la fotografía, 1990.

4

Conceito alternativo ao freudiano “retorno do recalcado”, proposto por P. Sloterdijk e levado à arquitetura por J. R. Moreno Pérez. Ver: https://idus.us.es/xmlui/handle/11441/56777

Por:
Paula V. Álvarez es una arquitecta con sede en Sevilla, fundadora de la práctica editorial Vibok Works . Su trabajo reúne investigación, edición, diseño y escritura desde una perspectiva experimental y crítica. Su principal interés de investigación es cómo el encuentro del enfoque académico de los Estudios Culturales y de la Ecología de los Medios con la experimentación arquitectónica desde inicios del s. XX hasta nuestros días puede habilitar una comprensión más profunda de la renovación de las técnicas de arquitectura en el seno de la globalización electrónica y la cultura tecnográfica.

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