Rodrigo Almonacid (alunos da E.T.S. Arquitetura de Valladolid de visita às ruínas romanas de Túsculo, Itália, 2009).
O que já intuíamos há algum tempo, é agora um feito confirmado: estudar arquitetura não interessa. Ou, sendo precisos, interessa cada vez menos. Nos últimos anos, a cada início de ano académico, verifica-se uma descida do número de matriculados em Arquitetura1. Começou com uma ligeira descida na procura de futuros estudantes universitários, que começaram a escolher outros cursos para fazer as suas licenciaturas. Talvez este fenómeno tenha passado despercebido porque as escolas de arquitetura não se viram muito afetadas: continuavam a preencher as vagas; embora, isso sim, já não com o mesmo perfil de aluno de antes. Este chega, cada ano, com uma média de valor mais baixo (de 8,44 de média em “Arquitetura e Construção” em 2013/14 a 8,26 em 2014/15*) e o mesmo acontece também na preparação especifica (em “Desenho Técnico II” desceu de 7,56 a 7,33 também nos últimos dois anos*), de acordo com as fontes ministeriais2.
Em termos demográficos e geográficos, o estudante está-se a tornar cada vez mais “local” e opta por estudar algo que exista na sua própria cidade para evitar custos extras devido aos gastos de transporte, visto que os custos dos estudos universitários já são elevados por si só. A escolha, ao contrário do habitual, já não depende só dos gostos ou da capacidade do jovem estudante, mas também de um fator económico, cada vez mais decisivo. Nas grandes capitais (Madrid, Barcelona) este declive só afeta à qualidade dos matriculados, mas não à quantidade, pois até as migalhas das grandes ETSAs dão para encher as escolas satélite destas, em muitos casos. Pelo contrário, aqueles que têm uma demografia menos densa resistem bastante, sobretudo se o custo dos créditos universitários é muito elevado face a outras localizações, como é o caso de Valladolid, que, apesar de atender às 9 províncias de Castela e Leão, Cantábria e Astúrias, reduziu quase um terço dos novos matriculados em 2016/2017. Comparemos o valor de 23,34€/crédito da ETSA de Valladolid (a 3ª mais cara de Espanha) com o valor em Galiza, de tão só 11,89€/crédito, basicamente a metade do preço. É incrível, não é?
A consequência direta – embora ache que não nos estamos a aperceber do assunto, talvez por ser ainda demasiado cedo para detetá-lo –, é que o estudante inscrito sai com uma nota média no seu expediente académico de quase meio ponto a menos: de 7,10 em 2009/10 a 6,67 em 2012/13. Ou seja, os arquitetos estão ainda menos preparados para enfrentar-se ao panorama laboral mais complicado da história da profissão, e ainda mais se falamos em termos de competitividade profissional e da retribuição do trabalho no mercado. Não digo que saiam mal preparados, digo pior que antes, por vários motivos, tantos que daria para outro post.
Justificações para este retrocesso há muitas, mas sobretudo uma: a escassez de trabalho como “arquiteto” (quero dizer, no seu exercício “clássico” de projetar edifícios). Este facto é inegável, mas também é inegável o facto de que nem as ETSAs nem os Colegios de Arquitectos (OA) estão a saber transmitir a grande quantidade de trabalhos para os que o arquiteto está capacitado, o que se conhece frequentemente como “saídas laborais”. Erro crasso e de urgente retificação.
A sociedade espanhola atual tem um péssimo conceito da nossa profissão – não é nenhuma novidade –, e é lógico que os pais não desejem que o seu filho passe a ser mais um dos estigmatizados pela crise. Vamos ficar de braços cruzados à espera sem fazer nada? Acabo com um tom mais positivo: como há boas perspetivas de futuro, este seria objetivamente um bom momento para incentivar o estudo da Arquitetura, não acham?
Nota tradutor: *Este post faz referência às médias de acesso ao ensino superior de Espanha, onde a escala de notas de acesso é de 0 a 10.
Texto traduzido por Inês Veiga