Desde há uns anos, nos circuitos académicos e profissionais da arquitetura, ouvimos frequentemente as palavras “arquitetura sustentável”, “sustentabilidade”, eficiência energética”, etc. No princípio soavam a palavras vãs: a construção foi sempre um mundo muito tradicional e avesso às mudanças, quase sempre instauradas por força da normativa.
Com o tempo, arquitetos e utilizadores fomo-nos acostumando a estes termos que convivem connosco diariamente. Nalguns casos, por obrigação; noutros por dedicação específica a integrá-los nos nossos projetos, mesmo com risco de aumentar o orçamento ou conseguir designs um pouco menos elegantes.
Mas a sociedade avança rapidamente e o que até há pouco era um conceito inovador é agora um termo desgastado pelo uso, por vezes, indevido. A nova forma de ser sustentável passa por aplicar o conceito de economia circular, conceito que noutros setores já se utiliza e que deveríamos começar a considerar para construir o nosso futuro.
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A economia circular é uma nova visão orientada para o desenvolvimento de produtos e serviços realmente sustentáveis, de maneira a otimizar o uso dos recursos, a facilitar a desmontagem e a reutilização e a minimizar os resíduos. E que significa, realmente, sustentável? Já não basta simplesmente reciclar ou utilizar materiais reciclados. A base está em reutilizar componentes durante todos os processos de criação e redesenhar pensando especialmente no desmantelamento ao finalizar a vida útil dos produtos.
Por exemplo, existem casos de torradeiras facilmente desmontáveis e com partes reutilizáveis em caso de falha, tal como lâmpadas, cujo design permite vender o serviço de luz em vez da própria lâmpada. Mas não é tão simples quando falamos de arquitetura e aí é que radica o problema.
Projetamos edifícios baseados nas nossas necessidades de hoje para que permaneçam até um amanhã indefinido que pode variar desde os 50 anos até um século. Projetamo-los belos e eficientes no nosso contexto atual, mas, no geral, não pensamos no que lhes acontecerá durante a sua vida útil, nem temos em conta se o utilizador o habitará realmente durante todo esse tempo. Utilizamos materiais com vidas úteis diversas: betão, aço, madeira, etc. Além disso, pensamos que, no futuro, o edifício poderá ser reabilitado, mas não o projetamos expressamente para facilitar esse processo, nem sabemos se poderá adaptar-se às necessidades futuras. E, no caso de ser demolido, consideramos desde o princípio como será essa demolição? Poderão reutilizar-se (que não é o mesmo que reciclar) os materiais? A resposta geral é não e, do ponto de vista da economia circular, a pergunta é: porque não?
Pouco a pouco reutilizamos mais materiais de construção e avançamos na arquitetura modular e prefabricada. Contudo, continuamos, maioritariamente, a projetar sem considerar toda a vida útil do edifício, nem a sua adaptabilidade no futuro.
A nova arquitetura sustentável passa por projetar com estas diretrizes e conseguir edifícios flexíveis que se adaptem facilmente às necessidades dos seus futuros inquilinos. Se o utilizador se adapta às mudanças porque é que a arquitetura não o faz?
Texto traduzido por Inês Veiga