O sistema de Código Postal utiliza-se na maioria de países a nível mundial para organizar eficientemente a repartição do correio. Espanha está composta por 11.752 códigos de cinco números dos quais os dois primeiros correspondem à província e, os últimos três, à ‘zona postal’.
Trata-se de uma descrição abstrata e sintética da realidade através do uso de uma linguagem extremamente limitada e, precisamente por isso, muito eficiente, na que cada código descreve um lugar com precisão, sem atender a peculiaridades ou características folclóricas, para finalmente definir uma cartografia na qual é possível identificar certas características geográficas, políticas e demográficas do território.
A criação de estruturas complexas através do uso da linguagem limitada é um processo utilizado também em alguns trabalhos artísticos que nos chamam a atenção. São obras que se adaptam a umas regras de jogo, utilizando muito poucos recursos de um modo extremamente eficiente. Obras que se desenvolvem dentro de umas estreitas margens que, longe de limitar o seu potencial, favorecem a criação de estruturas extremamente lógicas, sofisticadas, belas até.
O OuLiPo, acrónimo de ‘Ouvroir de littérature potentielle’ (‘Oficina de literatura potencial’), foi um grupo de experimentação literária, criado em Paris em 1960, entre cujos membros se encontravam Perec, Duchamp ou Calvino. Os seus textos, com uma maior preocupação pela estrutura formal do que pelo seu conteúdo literário, baseavam-se numa série de restrições autoimpostas: a proibição de usar uma letra, fonema ou palavra, a estruturação do texto por meio de um algoritmo matemático etc.
Os alemães Bernd e Hilla Becher percorreram diferentes países durante mais de 50 anos para fotografar edifícios e estruturas industriais. As condições de execução – fotografias sempre a preto e branco, sempre à mesma distância, sempre num plano perpendicular ao objeto fotografado – e de exposição – matrizes formadas de entre seis e doze edifícios com uma função idêntica, criando assim interessantes séries de elementos iguais e diferentes – ajustavam-se a códigos muito estritos, sendo este um aspeto essencial para entender a magnitude da sua obra.
Em 1995, um grupo de cineastas dinamarqueses criou o movimento “Dogma 95”, uma critica ao peso crescente da tecnologia e à pós-produção no cinema contemporâneo. Os seus filmes adaptavam-se ao “Voto de Castidade”, um decálogo com instruções tipo como filmar com a câmara ao ombro, em localizações reais, sem adicionar ou pós-produzir efeitos de som ou de imagem, sem luz artificial, sem filmes de género, nem os saltos espaciotemporais, etc.
A arquitetura é, por definição, uma disciplina “contaminada” por constrições de todos os tipos (contextuais, físicas, orçamentais, urbanísticas, programáticas,…) Não é tão habitual que o arquiteto decida adicionar a estas – inevitáveis – outras limitações autoimpostas ou regras de jogo estruturadoras do projeto. Mas acontece, e às vezes com resultados muito interessantes – e diferentes –, como é o caso do Orfanato de Van Eyck, em Amesterdão, a proposta de Koolhaas para o Parque da Villete, em Paris, ou a mais recente Escola de Arte e Desenho de Amposta, obra da autoria de Gerard Puig e David Sebastián.
Texto traduzido por Inês Veiga